A formatura costuma ser o primeiro grande rito de passagem na vida escolar de uma criança. Para Deise de Andrade, no entanto, o evento na Escola Municipal Elísio Ataíde, em Cajazeiras 5, transformou-se em um episódio de segregação. Sob o argumento de um prazo expirado para o pagamento de uma taxa de R$ 100, a mãe foi barrada na entrada da cerimônia, sendo impedida de testemunhar a conquista da filha.
O caso, que ganhou repercussão após o desabafo de Deise viralizar nas redes sociais, levanta um debate urgente sobre a mercantilização do acesso em instituições de ensino público. Segundo o relato da mãe, a cobrança foi apresentada como condição mandatória para a participação, ferindo o princípio básico da gratuidade do ensino e de eventos correlatos na rede municipal.
O caso ganha contornos mais graves por se tratar de uma instituição da rede pública, onde a gratuidade é um preceito constitucional. Segundo o relato de Deise, a tentativa de quitar o valor fora do prazo foi sumariamente rejeitada pela equipe docente. A resposta recebida foi um exercício de rigidez burocrática sobre a humanidade: o direito de presenciar a conquista da filha foi condicionado estritamente ao cumprimento do boleto.
A denúncia levanta um debate necessário sobre a privatização velada de momentos celebrativos no ensino público. Deise afirma que a cobrança foi apresentada como compulsória, uma prática que colide diretamente com as normas da Secretaria Municipal da Educação (Smed). Em nota oficial, a pasta foi categórica: nenhuma atividade, festa ou cerimônia nas unidades municipais pode ser taxada.
A resistência da escola em permitir a entrada da mãe, mesmo após ela se prontificar a pagar, sugere que o evento funcionou sob uma lógica de clube privado, e não de equipamento social. O ápice do conflito ocorreu quando, de acordo com a denunciante, o vice-diretor da unidade teria invocado a figura do prefeito para legitimar o veto à sua entrada, transformando uma questão administrativa em um embate de autoridade.
Veja o vídeo:
A repercussão das imagens de Deise em prantos nas redes sociais não é apenas um registro de dor individual, mas um sintoma de uma gestão escolar que desconsidera a realidade socioeconômica de sua comunidade. Quando uma escola pública estabelece barreiras financeiras para o acesso de pais a eventos escolares, ela fere o princípio da gestão democrática e da integração família-escola.
A Smed confirmou que abrirá um processo de apuração para investigar a conduta da direção da Escola Elísio Ataíde. Enquanto as providências administrativas são analisadas, o episódio deixa uma marca indelével: a de que, para aquela criança e sua mãe, o primeiro diploma teve um preço que a ética pedagógica não deveria permitir cobrar.





