O Brasil, sempre ele, apresenta mais um capítulo de sua peculiar novela da segurança pública. Desta vez, o cenário é o Rio Grande do Norte, onde o “Projeto Território Seguro” estreou com todo o glamour de uma megaoperação policial. O pontapé inicial na comunidade Cidade Nova, com seus 12 mil habitantes, não economizou em efeitos especiais: 32 prisões, dezenas de mandados cumpridos, e um banho de loja no estoque de armas e drogas do crime local. Um verdadeiro sucesso de bilheteria, ou melhor, de boletim de ocorrência.
A iniciativa do Ministério da Justiça, embalada por uma consultoria premium da USP (sim, a inteligência acadêmica tentando domar o caos real), é a nova aposta para desocupar as “terras prometidas” das facções. O roteiro é clássico, mas promete um final diferente: primeiro, a limpeza cirúrgica, leia-se, tirar as cabeças do crime para dar aquela pausa no business ilegal. Depois, entra em cena a fase “tudo nosso”: Justiça e assistência social para a população carente, que, ironicamente, costuma ter acesso mais rápido ao “juiz” do tráfico do que aos serviços do Estado.
É quase um Extreme Makeover: Edição Segurança Pública. O Estado entra na casa, faz a faxina pesada, e promete que, desta vez, a geladeira vai ficar cheia de iogurte, e não de coletes à prova de balas. O ceticismo, claro, já comprou seu ingresso na primeira fila. Afinal, quantas vezes o Estado já prometeu retomar o que nunca conseguiu manter?
O Rio Grande do Norte, coitado, vira o playground de testes para uma política que, se der certo, será copiada em escala nacional. Se der errado, bom, foi só um piloto. Que responsabilidade enorme para 12 mil pessoas.
A Cidade Nova se transforma, assim, no novo big brother da segurança. Em dezembro, o Ministério da Justiça solta o balanço.
Estaremos todos de olho, esperando para ver se o plano de walk-in, walk-out do tráfico realmente funciona, ou se é só mais um spoiler de uma tragédia anunciada.





