Setembro marcou uma nova queda nas vendas do setor de bares e restaurantes, que recuaram 4,9% na comparação com agosto e 3,9% em relação ao mesmo mês do ano anterior, encerrando um período de três meses de estabilidade.
O cenário reflete o conjunto de fatores desafiadores que o segmento enfrenta, com destaque para o elevado endividamento das famílias brasileiras, que já compromete mais de 70% da renda mensal disponível para despesas essenciais e lazer, limitando a frequência aos estabelecimentos gastronômicos.
A inflação específica do setor manteve-se alta, pressionando os preços de insumos, energia, aluguel e outros custos operacionais, o que impacta diretamente o tíquete médio nas mesas. Os dados mostram um aumento acumulado de 8,24% nos preços do setor nos últimos 12 meses, acima do índice geral de inflação que está em 5,17%, tornando comer fora uma opção que pesa mais no orçamento familiar.
O agravante mais recente e delicado é o escândalo da adulteração de bebidas com metanol, que começou a ser amplamente noticiado no final de setembro, causando medo e retração imediata no consumo de drinks e visitas a bares, especialmente entre os consumidores mais cautelosos. O Ministério da Saúde confirmou 46 casos de intoxicação, com 8 mortes e dezenas de investigações em andamento, fato que deve provocar uma queda ainda mais drástica nas vendas durante o mês de outubro.
Ainda assim, o setor movimentou cerca de R$ 430 bilhões em 2024, demonstrando sua importância para a economia e geração de empregos. Contudo, a combinação de inflação persistente, endividamento elevado e crise pontual do metanol reforça uma perspectiva de desaceleração significativa, obrigando empresários a buscar alternativas para conter aumentos de preços e preservar a clientela em um momento delicado da recuperação econômica.
Com exceção de alguns estados como Maranhão, que registrou alta de 2,6% nas vendas de bares e restaurantes, a maior parte do país vive um cenário de retração, com quedas expressivas em estados como Roraima, Pará, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
O desafio agora para o setor vai além da contenção dos preços e envolve restaurar a confiança do consumidor diante da recente crise sanitária e financeira. A sustentabilidade do segmento dependerá da agilidade dos empreendedores em se adaptar à nova realidade econômica e às exigências do mercado, para além do impacto imediato do escândalo do metanol.
Essa conjuntura evidencia a vulnerabilidade do setor a fatores externos, como crises de saúde pública e o comportamento do consumidor pressionado pelo cenário macroeconômico, sinalizando que a volta da estabilidade e crescimento pode demandar esforços significativos nos próximos meses.
Paulo Solmucci, presidente da Abrasel, destaca que o mês de setembro “foi marcado por uma combinação de fatores que impactaram diretamente as vendas, como inflação, endividamento e o impacto dos casos de intoxicação, dificultando a movimentação nos estabelecimentos.”