O promotor Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo (MPSP), revelou nesta sexta-feira (24) que ele e o coordenador de presídios Roberto Medina estão na mira de um plano de execução do Primeiro Comando da Capital (PCC). A mesma estratégia criminosa também tinha como alvo o ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes, morto em uma emboscada no litoral paulista no dia 15 de setembro.
De acordo com Gakiya, a facção organizou uma célula específica para acompanhar detalhadamente a rotina dele e de Medina, incluindo trajetos, horários e locais frequentados, como academias e residências. Segundo o promotor, o plano não é recente: “Esse levantamento já existia há anos, mas estava parado e voltou a ser executado. O monitoramento do doutor Ruy começou entre junho e julho, na mesma época que o meu e o do Medina”, disse durante a coletiva.
O esquema foi detectado pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPSP, que, junto à Polícia Civil, deflagrou a Operação Recon. Ao todo, foram cumpridos 25 mandados de busca e apreensão em cidades do interior paulista, como Presidente Prudente, Álvares Machado, Martinópolis e Presidente Venceslau. Foram apreendidos celulares, computadores e outros materiais que passarão por perícia, na tentativa de identificar todos os envolvidos na fase de reconhecimento e vigilância.
Segundo o MPSP, a célula funcionava de forma compartimentada e disciplinada: cada integrante tinha uma função específica e desconhecia a totalidade do plano, dificultando a detecção das ações. “Havia prints de telas com mapas dos trajetos que faço diariamente, do condomínio para o trabalho e da academia. Tudo estava sendo monitorado”, relatou Gakiya.
Em 2019, investigações já haviam interceptado uma ordem de execução contra Ruy Ferraz Fontes, organizada pela Sintonia dos 14, uma célula do PCC que atua como conselho deliberativo da facção. Na ocasião, a polícia encontrou uma carta assinada pela Sintonia Geral do PCC, na qual eram detalhados alvos e responsáveis pelas missões. O objetivo era claro: “passar ordens do alto comando da facção para organizar ataques a autoridades do Estado de São Paulo”.
A morte de Fontes, que foi delegado-geral da Polícia Civil paulista entre 2019 e 2022, reforçou a urgência da proteção a Gakiya e Medina. Fontes era conhecido pelo combate à facção, incluindo ações que levaram à prisão e à transferência para regime mais rigoroso do líder máximo do PCC, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola.
A carta interceptada pelo Gaeco nomeava os responsáveis pela execução das missões: Fernando Henrique dos Santos, o Koringa; Cleberson Paulo dos Santos, o Mimo; Jhonatan Alexandre Rodrigues, o Barata; Alan Donizeti dos Santos, o Terere; e Marcos Ferreira de Souza, o Corintiano. A mensagem deixava claro que o não cumprimento das ordens resultaria em cobrança “à altura, pagando com a própria vida”.
Para Gakiya, a revelação do plano e a execução de Fontes mostram a organização do PCC e a ameaça real que a facção representa. “Infelizmente, o doutor Ruy não teve a mesma sorte”, lamentou o promotor, destacando a importância das operações de inteligência para prevenir novos ataques.
A Operação Recon evidencia a capacidade do PCC de planejar atentados contra autoridades e reforça a necessidade de ações coordenadas entre Ministério Público e Polícia Civil para desarticular células especializadas dentro da facção criminosa.





