O labirinto da aprovação na Grande Recife: a aprovação de Lyra e o fascínio inexplicável por João Campos

A governadora de Pernambuco celebra 57% de aprovação após périplo China-Dinamarca, mas a pesquisa Datafolha revela a tragédia grega de sua gestão: ela é amada pelo Interior que a elegeu, enquanto a Região Metropolitana do Recife, que dita o pleito, está de ouvidos moucos para o canto do seu principal oponente.

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Raquel Lyra (PSD) retorna de uma viagem internacional de alto-luxo diplomático, com escalas estratégicas na China e Dinamarca, para receber o que parece ser uma dose dupla de realidade política em seu estado. De um lado, o Instituto Datafolha lhe entrega uma aprovação de 57%, um índice que qualquer gestor estadual almejaria. Do outro, a mesma pesquisa funciona como um espelho de Cassandra, revelando a dura profecia para 2026: o seu principal adversário, João Campos (PSB), prefeito do Recife, lidera a corrida eleitoral com 52% das intenções de voto, dobrando a preferência pela atual governadora (30%).

O dilema da gestão Lyra se resume a uma falha geopolítica interna: ela é a governadora do Interior. A aprovação explode nos municípios fora da capital (62% aprovam contra 33% que reprovam), mas naufraga na Região Metropolitana do Recife (RMR), onde reside 43% do eleitorado. Ali, a maioria (55%) reprova sua gestão, e a aprovação estanca nos 41%. A RMR, portanto, não apenas desaprova o trabalho de Lyra, mas parece impermeável aos seus esforços de “atacar todas as frentes” com investimentos em segurança, saúde e infraestrutura.

Em uma entrevista após a divulgação dos dados, a governadora tentou transformar a dissonância em otimismo. “A população obviamente sente parte desse resultado”, afirmou, focando na execução de contratos e na promessa de transformar “sonhos e projetos” em felicidade popular. A fala, protocolar e revestida de clichês motivacionais, ignora que, para o eleitor da RMR, o trabalho feito parece ser, no máximo, “regular” (37% na avaliação geral), e a reprovação está alta o suficiente para forçar um voto de protesto.

A ironia suprema está na figura de João Campos. O prefeito, cuja popularidade na capital é a espinha dorsal de sua candidatura, mal precisa fazer campanha fora de seu habitat urbano para figurar como favorito à sucessão. Os eleitores da capital e região, vitais para a vitória, demonstram uma adesão quase cega ao seu nome.

Pernambuco, hoje, vive uma polarização curiosa: uma governadora que tem um governo bem avaliado no campo, mas que não consegue converter essa boa vontade em capital político na metrópole. E um oponente que, sem a necessidade de grande esforço visível no Interior, capitaliza a insatisfação metropolitana da adversária para consolidar uma dianteira esmagadora. Se Lyra não conseguir furar a bolha da RMR e desmistificar o fascínio que cerca seu adversário, o resultado das urnas em 2026 será o triunfo do marketing eleitoral sobre a satisfação do Interior.

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