O debate sobre segurança pública no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, naufragou em um ciclo de maniqueísmo estéril. A análise, que deveria convergir em soluções estruturais, frequentemente se perde na dicotomia “guerra versus confronto” ou “favela versus comunidade”, transformando um problema complexo de estado em mera disputa ideológica.
O ex-oficial do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) e analista de segurança pública, Rodrigo Pimentel, acendeu o alerta durante uma recente participação na CNN. Segundo o especialista, a grande ameaça que o Rio enfrenta e que avança em diversas capitais brasileiras, não adere a espectros políticos. O inimigo comum é o crime organizado, uma estrutura empresarial que lucra com o tráfico, o roubo de cargas e, mais gravemente, consolida seu poder através da expansão no mercado imobiliário e do domínio territorial em comunidades. “Focar em rótulos ideológicos”, argumenta Pimentel, “apenas sabota a busca por eficácia”.
A politização é inevitável, mas a disputa de vaidades e a busca por palco, como a vista em embates via redes sociais entre autoridades de diferentes esferas de poder, desviam recursos e tempo da inteligência e da integração operacional. O risco, conforme Pimentel, é que a prioridade de “aparecer” se sobreponha à urgência de resolver uma crise de segurança pública que, historicamente, afeta de maneira desproporcional a população mais vulnerável.
O Efeito Colateral do Decreto
O uso de decretos federais, como o que mobilizou forças nacionais para atuar no Rio e em outros estados, é visto por Pimentel não apenas como um gesto político para demonstrar atividade presidencial, mas como um mecanismo para forçar a integração entre as instituições. A Polícia Federal (PF) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) enfrentam dificuldades crônicas de diálogo com as polícias estaduais, frequentemente em um “conflito de vaidade” onde a disputa por holofotes na apreensão de armas e drogas prevalece sobre a cooperação sistêmica.
Ao listar crimes específicos, como o tráfico de drogas, roubo de cargas e a expansão do crime organizado, como focos de atuação, o governo federal busca impor uma coordenação estratégica que, de outra forma, inexiste. Essa ação coercitiva visa unificar o esforço na inteligência e no sistema prisional, áreas cruciais onde a articulação tem permitido o fortalecimento do crime.
Em suma, enquanto a classe política e midiática se prende ao debate semântico sobre a natureza do combate, o crime organizado avança de forma funcional e sem ideologia. O desafio é tirar o tema do campo da polarização e levá-lo para a arena das soluções sistêmicas, priorizando a integração e a inteligência como eixos inegociáveis.





