O pais sintonizou a grande mídia nacional, através de suas principais redes de TV – canais abertos e fechados – na curiosidade de observar se o jornalismo profissional ainda tinha chance de sobreviver aos “novos tempos”, trazidos pelo fenômeno inovador das redes sociais, que tomaram seu antigo papel de divulgar fatos e imagens, levando informações – despidas de comentários – ao público telespectador, e em tempo real. Imagens que dispensam comentários.
Infelizmente, mais uma vez, flagrou-se a decepção. Flash rápido, câmeras no solo, outras direcionadas apenas para alguns trechos de seus quarteirões… Mas, a CNN usou drones e mostrou toda a Avenida – 2,8 km de extensão – totalmente lotada, com o povo espremido, semelhante a “sardinhas em lata”. Ocupando inclusive trechos (ruas) adjacentes que davam acesso a Paulista.
Registro histórico, apontava como recorde de público a manifestação contra Dilma Rousseff, em março de 2015. Até ontem. As consequências de 2015 culminaram no impeachment da presidenta, e sua derrota três anos depois, disputando uma das vagas para o Senado, representando seu Estado Minas Gerais. Pacheco venceu.
Coincidentemente, uma das grandes redes de TV estava exibindo um excelente documentário, “Adeus Camaradas” – revisão da história – produzido por uma excelente equipe de jornalistas investigativos, políticos da época e historiadores franceses, com fatos e depoimentos sobre o fim da União Soviética, dissolução do Pacto de Varsóvia, eleição de Boris Yeltsin democraticamente pelo voto, derrotando o Partido Comunista. Tudo feito pelo povo, sem coordenação, encorajados a partir da Polônia, e sua luta por um Sindicato Livre, com direito de greve, o Solidarnosc (Solidariedade) comandado por Lech Walesa.
Foi um efeito dominó. Em apenas dois anos, quinze Repúblicas que compunham a extinta União Soviética declararam independência, removeram ditadores e fizeram eleições livres. O povo enfrentou a temível KGB, Stasi (Alemanha Oriental), Exército Vermelho e Forças Militares opressoras destas nações. Personagens da época – povo – em seus depoimentos não negaram o medo de morrerem.
Mas, confessaram que se sentiram impulsionados por uma força estranha, que não conseguiam descrever.
O Establishment usou todo seu aparato para intimidar a realização do evento com cobertura da Mídia Tradicional Profissional. A PF intimou Bolsonaro na quinta-feira, numa demonstração de força. Não divulgaram o evento e chegaram a sugerir (Fake News) que o Pastor Silas Malafaia – coordenador da mobilização – poderia ser preso e estava pensando em mudar a data do acontecimento. Mas, desprezando estas informações, as redes sociais mostraram sua eficácia e incalculável alcance.
Chocado, o governo viu que sua base de sustentação no Congresso Nacional não passa de um “Castelo de Areia” na praia. Estavam ao lado de Bolsonaro líderes das principais legendas que ocupam Ministérios no governo petista. O PSD, PP, Republicanos e até o MDB, representado pelo seu maior líder (densidade eleitoral), o prefeito de São Paulo Ricardo Nunes.
Governadores de diversos Estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, mais de 160 deputados federais e 19 senadores da república… O povo foi ver e ouvir Bolsonaro. No discurso do anfitrião, Tarcísio de Freitas, a humildade em reconhecer que politicamente não era ninguém, antes de Bolsonaro. Acrescentou que o ex-presidente não é mais um CPF ou CNPJ, o Bolsonarismo simboliza um movimento do povo.
O pastor Silas Malafaia chamou para si toda a responsabilidade de “descer a lenha” no STF, Alexandre de Morais, Lula, Lava-Jato e outros temas “proibitivos” no momento. Foi uma tarde de democracia. E como ressaltou Malafaia, em todos os países onde existem democracias acontecem mobilizações, greves, interditam estradas – como agora na França e toda zona do Euro – por que só no Brasil é proibido ir às ruas e protestar contra as decisões absurdas do STF?
Somos ou não, uma democracia?
Hoje (26/02/2024) ao amanhecer redes de TV tentaram minimizar o estrondoso “grito do silêncio”, com notícias internacionais, G20, Ucrânia e Gaza. Mas, ficou patente que doravante o Congresso se norteará pelo episódio da Paulista. E se Lula desejar concluir seu mandato – já engessado – tem que se curvar ao Parlamento que não é de esquerda e nem é seu aliado partidário. Aguardemos a reação do governo.
Por Júnior Gurgel – Com A Palavra Online