O abismo geracional no mercado de trabalho brasileiro ganhou, nesta quarta-feira (17), um contraponto estatístico relevante. A iniciativa Um Milhão de Oportunidades (1MiO), liderada pelo Unicef, consolidou a marca de 1,29 milhão de inserções para jovens entre 14 e 29 anos. O número não é apenas um marco burocrático, mas um diagnóstico da urgência em conectar a juventude periférica e historicamente marginalizada aos fluxos econômicos do país.
Desde sua fundação em 2020, o projeto atua como um hub que articula o setor privado, o poder público e a sociedade civil. O balanço atual detalha que, do total de beneficiados, mais de 820 mil jovens acessaram vagas diretas de aprendizagem, estágio ou emprego formal, enquanto cerca de 473 mil concluíram ciclos de formação técnica voltados às demandas contemporâneas do trabalho.
Apesar do avanço, os dados do IBGE e da PNAD Contínua mantêm um sinal de alerta aceso sobre as redações e gabinetes governamentais. A estrutura do desemprego no Brasil é seletiva e geracional:
• Taxa Geral de Desemprego: 8,8%
• Desemprego Jovem (18-24 anos): 18% (O dobro da média nacional)
• Jovens “Nem-Nem”: 8,9 milhões de brasileiros entre 15 e 29 anos não estudam nem trabalham.
Essa massa de brasileiros subutilizados, a maior geração de jovens da história do país, somando 48,6 milhões de pessoas, representa o que economistas chamam de “bônus demográfico” em risco. Se essa janela de oportunidade não for aproveitada nas próximas décadas, o país poderá enfrentar um colapso na previdência e uma estagnação produtiva crônica.
A estratégia do 1MiO diferencia-se por não buscar o jovem “padrão”, mas sim aqueles que enfrentam barreiras estruturais invisíveis. O foco recai sobre 12 perfis prioritários, incluindo:
• Populações Negras e Indígenas: Grupos que sofrem o impacto direto do racismo institucional na triagem de currículos.
• Mães Jovens e Mulheres: Que frequentemente precisam conciliar a jornada de cuidado com a busca por autonomia financeira.
• Pessoas com Deficiência e Comunidade LGBTQIAPN+: Segmentos que buscam não apenas o emprego, mas protocolos de retenção e respeito à diversidade no ambiente corporativo.
”Trabalhamos para que empresas e governos tenham processos de contratação e desenvolvimento de jovens em situação de vulnerabilidade. Não se trata apenas de abrir uma vaga, mas de fortalecer o projeto de vida desses adolescentes”, pontua Mônica Dias Pinto, chefe de Educação do Unicef no Brasil.
O sucesso do primeiro milhão de oportunidades revela uma demanda reprimida por qualificação, mas não resolve o problema estrutural da educação pública brasileira, que ainda luta para conectar o ensino médio técnico à realidade tecnológica do século XXI. O desafio agora se desloca para a sustentabilidade dessas vagas: garantir que o jovem entre no mercado não apenas como mão de obra de baixa complexidade, mas como um profissional em ascensão capaz de romper o ciclo de pobreza de sua família.
O Brasil possui as ferramentas e a escala demográfica. Resta saber se o setor empresarial verá a inclusão produtiva como uma métrica de responsabilidade social (ESG) ou como uma necessidade estratégica de sobrevivência econômica.





