O mundo do teatro de bonecos e do humor nordestino perdeu uma de suas figuras mais emblemáticas nesta terça-feira (4). Augusto Bonequeiro, com 74 anos, faleceu em Fortaleza. A informação foi comunicada pela Secretaria da Cultura da capital cearense, Secultfor, em uma nota de profundo pesar, sem detalhar a causa da morte ou as informações sobre o velório.

Nascido em Escada, Pernambuco, em 2 de abril, Augusto Bonequeiro construiu uma carreira de mais de quatro décadas, sendo reconhecido como um artista que soube unir suas raízes pernambucanas com a cultura do Ceará, estado que o acolheu a partir da década de 1980.
Pioneirismo no Palco: A trajetória do artista começou em 1973, com a participação no Teatro de Amadores de Pernambuco. Dois anos depois, ele foi um dos fundadores do influente Teatro Espontâneo do Recife. Sua migração para Fortaleza marcou a consolidação de sua arte, com a criação do Grupo Folguedo de Teatro de Bonecos e a fundação da Associação Brasileira de Teatro de Bonecos, Núcleo Ceará, em 1987. Ele também integrou a diretoria administrativa do Grupo Bonecos e Mamulengos.

Reconhecimento Internacional: Sua técnica e humor ultrapassaram as fronteiras nacionais, levando sua arte a festivais em países como Argentina, Itália, Espanha, Portugal e Suíça, consolidando a projeção internacional de seu trabalho.
A Hora do Chibata: O Fenômeno na Paraíba
Na televisão, Augusto Bonequeiro deixou uma marca indelével tanto no Ceará, com o programa “Bodega do Encrenca” e os personagens Seu Encrenca e Dona Cremilda. Na Paraíba, o artista alcançou grande popularidade com o programa “A Hora do Chibata” na TV Tambaú, onde ficou no ar por mais de 15 anos.

O programa paraibano, com o irreverente boneco Chibata, era conhecido por seu humor popular e a interação perspicaz com a sociedade e a política local e nacional, sempre com um toque de “molecagem cearense”. Segundo depoimentos de colaboradores da emissora, o programa se notabilizou como o único show de humor local a permanecer tanto tempo no ar na televisão paraibana.

O bonequeiro, que se desdobrava em viagens noturnas de Fortaleza para João Pessoa para as gravações semanais, relatou em entrevistas a grande alegria que o personagem Chibata lhe proporcionava e a fantástica experiência artística. Seu impacto na Paraíba foi tão significativo que ele recebeu o título de Cidadão Pessoense, atestando o carinho e o reconhecimento do público da capital paraibana.
Uma Herança Cultural e Educativa
A Associação Brasileira de Teatro de Bonecos (ABTB) expressou sua homenagem, ressaltando o “compromisso com a cultura popular” e o legado de sabedoria deixado por Augusto Bonequeiro.

Para além da televisão e dos palcos noturnos, o artista dedicou-se ao teatro de bonecos educativo. O humorista Jáder Soares, que trabalhou com Augusto e hoje dirige o Museu do Humor Cearense, destacou a importância desse trabalho, muitas vezes menos visível, focado em escolas e abordando temas sociais como dengue, DST/Aids e meio ambiente.
Em vida, seu legado já havia sido materializado: o Museu do Humor Cearense inaugurou, em abril de 2024, uma sala dedicada integralmente a ele, que perpetua sua trajetória e exibe os bonecos que ele criou e manipulou, garantindo que o riso e a arte de Augusto Bonequeiro continuem a inspirar novas gerações.





