Brasília presenciou, na tarde deste sábado (25), a mais recente, e literal, manifestação da instabilidade que, há anos, assola a capital federal. Por volta das 15h, o Corpo de Bombeiros foi acionado para debelar um princípio de incêndio no Anexo 3 da Câmara dos Deputados, curiosamente, em uma área sob reforma, “entre juntas”.
O combate ao fogo, segundo a corporação, foi rápido e eficiente. Quatro viaturas se deslocaram, mas bastaram poucos equipamentos para dominar as faíscas. A agilidade da equipe evitou que as chamas se alastrassem, sendo necessário apenas o trabalho de rescaldo com o auxílio de câmeras térmicas para identificar focos invisíveis, e a ventilação mecânica para dispersar a fumaça. Não houve registro de vítimas.
O incidente físico, cuja causa ainda é desconhecida, serve como metáfora perfeita para o cotidiano do Parlamento. Se no plano concreto os militares combateram as fagulhas entre as estruturas em obras, no tablado político o “incêndio” é permanente. A cada votação, a cada CPI, a cada polêmica instalada, assistimos a um princípio de combustão generalizada.
A diferença é que, na arena legislativa, o fogo nem sempre é acidental, tampouco combatido com a mesma eficácia. Muitas labaredas são acesas deliberadamente, fruto do calor das articulações, da fricção ideológica ou do atrito das “juntas” partidárias que, frequentemente, parecem mal encaixadas.
Enquanto a equipe de salvamento utilizou água e ventilação, o Congresso lida com um arsenal mais volátil: notas de repúdio, requerimentos de urgência, o sempre ameaçador “fogo amigo” e, é claro, a fumaça das desinformações que insistem em tomar conta do ambiente. Ali, o “rescaldo” costuma ser mais demorado, e a “ventilação mecânica” muitas vezes é a única saída para tentar limpar o ar após debates inflamados e derrotas bilionárias de projetos governamentais.
Assim como no Anexo 3, onde os bombeiros buscaram focos remanescentes com câmeras térmicas, o cidadão observa de longe, munido do seu próprio senso crítico, tentando distinguir o calor de um debate legítimo da incineração de reputações. O Parlamento está, de fato, em obras constantes, seja de seus prédios, seja de sua própria imagem. Resta saber se, ao final de cada crise, a reforma deixará a Casa mais sólida ou se os próximos “princípios de incêndio” demandarão mais do que quatro viaturas e um bocado de ironia para serem controlados. A causa do fogo físico segue em investigação. A causa do fogo político, essa já é de conhecimento público.





