Interlagos: o ‘filho do dono’ da velocidade e o fim de um jejum caríssimo

Bortoleto, o novo herói nacional, chega à F1 com o cofre cheio e parentesco que acelera mais que o carro.

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O Autódromo de Interlagos, templo do automobilismo nacional, prepara-se para o habitual frenesi do Grande Prêmio de São Paulo, mas, desta vez, o tempero é especial. O grid da Fórmula 1 finalmente recupera o sotaque brasileiro com a estreia de Gabriel Bortoleto, quebrando um jejum de oito anos desde a aposentadoria de Felipe Massa em 2017. Aos 21 anos, o mais novo representante verde e amarelo na Sauber não traz apenas um currículo impecável, recheado de títulos na F3 e F2, mas também uma bagagem familiar que o coloca em uma posição peculiar na elite da velocidade.

Família Bortoleto

É inegável que talento e dedicação levaram o jovem de Osasco ao patamar máximo, mas a Fórmula 1 sempre foi um esporte de exceção e, digamos, de conexões. E Bortoleto tem a conexão-chefe: Lincoln Oliveira, seu pai, é o CEO da Vicar, a empresa que gere a Stock Car, a principal categoria brasileira. Chamar Gabriel de ‘filho do dono’ não é apenas uma ironia; é reconhecer um ambiente familiar que não só respirou o esporte (com o irmão Enzo, ex-piloto, trocando o volante pela gestão para concentrar esforços em Gabriel) mas também detém as chaves de um pedaço relevante do automobilismo nacional.

Claro que o talento venceu, mas a influência paterna, que pavimentou o caminho em um esporte onde o dinheiro fala mais alto que o motor V6, é um detalhe que não pode ser ignorado na narrativa de conto de fadas.

A estreia em casa é a cereja do bolo de uma temporada de afirmação para Bortoleto na Sauber. Curiosamente, o novato divide com Kimi Antonelli, da Mercedes, a honra de ser um dos estreantes mais bem pagos, embolsando US$ 2 milhões por ano, o equivalente a quase R$ 1 milhão mensalmente.

É um valor respeitável, sem dúvida, mas que serve como um lembrete do abismo salarial na F1. Enquanto o jovem talento tenta se provar no meio do grid, Max Verstappen e Lewis Hamilton, a realeza do esporte, riem à toa. O holandês da Red Bull fatura algo em torno de US$ 65 milhões, e o heptacampeão da Ferrari recebe meros US$ 60 milhões. Em outras palavras, o salário anual do brasileiro mal paga a conta de luz do iate dos medalhões.

Enquanto a torcida brasileira vibra com o retorno de um piloto local, o GP de São Paulo será a prova de fogo para Bortoleto. Ele precisa provar que sua presença no grid não é apenas um resgate nostálgico ou o ápice de um projeto familiar bem financiado. Se o sobrenome abriu portas no automobilismo, agora cabe ao “Filho do Dono” mostrar que ele tem velocidade para justificar o cheque e se consolidar na categoria. Afinal, em Interlagos, o dinheiro compra a entrada, mas só o talento compra o pódio.

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