O gospel superou o axé, o pagode e outros ritmos tradicionais da Bahia e se consolidou como o gênero musical mais ouvido pelos moradores de Salvador. É o que aponta a pesquisa Cultura nas Capitais, divulgada em abril pelo DataSenado em parceria com o Ministério da Cultura.
O levantamento, baseado em 600 entrevistas realizadas na capital baiana em 2024, mostrou que 28% da população soteropolitana escolhe o gospel como seu gênero musical favorito. A Música Popular Brasileira (MPB) aparece em segundo lugar com 24%, seguida por sertanejo e pagode, empatados com 19% cada. Ritmos como axé e samba-reggae não aparecem entre os mais citados.
O resultado da pesquisa acompanha os dados do Censo 2022 do IBGE, que indicou crescimento de 17,9% da população evangélica em Salvador, totalizando 523,4 mil pessoas. A cidade também passou a ter menos da metade da população se declarando católica, além de registrar a maior proporção de pessoas sem religião entre as capitais brasileiras.
Gospel cresce como fenômeno social e cultural
O avanço do público evangélico tem ampliado a presença do gospel em diversos ambientes da vida cotidiana em Salvador. O gênero deixou de estar restrito aos templos e passou a ocupar espaços como rádios, redes sociais, fones de ouvido, festas familiares e até playlists de artistas da música popular.
Para além do som tradicional, o gospel hoje abrange uma variedade de estilos — como forró, rap, sertanejo, pop e até pagode — alcançando especialmente o público jovem. O fenômeno é impulsionado também por parcerias com nomes consagrados da música brasileira, como foi o caso de Caetano Veloso, que regravou a faixa “Deus Cuida de Mim” com o cantor gospel Klever Lucas em 2022.
Eventos gospel enfrentam falta de apoio público
Apesar da popularidade, produtores e líderes evangélicos relatam dificuldades para obter apoio do poder público em eventos voltados para o segmento. Em Salvador, a comunidade organiza festas alternativas às celebrações seculares, como o “Sem João, com Jesus” — um evento junino cristão com bandas de forró gospel e atrações culturais para jovens evangélicos.
Líderes religiosos defendem que o Estado reconheça o tamanho e a relevância cultural da comunidade evangélica. Segundo eles, os fiéis não costumam participar de festas tradicionais como Carnaval e São João, mas também têm direito ao lazer e à cultura.