Um levantamento do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) escancarou a dimensão financeira da guerra contra as drogas em seis unidades da federação brasileira: São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pará, Santa Catarina e Distrito Federal. Somente no ano passado, essa luta consumiu R$ 7,7 bilhões, dos quais mais de R$ 4,5 bilhões foram destinados à Polícia Militar e ao sistema penitenciário.
Os números impressionaram, mas a coordenadora do CESeC, Julita Lemgruber, alerta que os custos reais vão além do que podem ser expressos no que se gasta com esse combate. O impacto social, especialmente sobre a juventude negra e periférica, é o mais severo. Isso não é apenas uma estatística; é uma ferida aberta em uma sociedade que parece ter aceitado que a repressão é sinônimo de solução.
A discussão sobre drogas no Brasil precisa ser mais profunda. A cada bala disparada, a cada prisão efetuada, perpetua-se um ciclo que não diminui o problema — apenas o deslocamento e, em muitos casos, o agravamento. Enquanto bilhões são destinados à repressão, investimentos em educação, saúde mental e oportunidades para jovens em comunidades vulneráveis continuam escassos. Sem alternativas concretas para prevenir a entrada de jovens no tráfico, a guerra às drogas segue como um mecanismo que alimenta a violência em vez de combatê-la.
Essa lógica é insustentável. Em vez de uma guerra que pune as populações mais fragilizadas, por que não investir em políticas que cuidem, eduquem e promovam? É preciso coragem para compensar o caminho. O custo mais alto dessa guerra não está nos orçamentos estaduais, mas nas vidas perdidas, nos futuros interrompidos e nas comunidades que seguem sendo palco de violência.
Faz-se urgente uma reflexão coletiva. Afinal, quem realmente se beneficia dessa guerra e por que ela persiste?
Por Hermano Araruna