O nome Nelson Wilians, antes sinônimo de sucesso meteórico e opulência nas redes sociais, ressoa agora no Congresso com o peso de R$ 4,3 bilhões em movimentações financeiras consideradas atípicas pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) entre 2019 e 2024. O bilionário advogado, figura proeminente no hall dos mais influentes do país, vê-se no epicentro de um turbilhão político-jurídico, com a CPMI do INSS (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) não apenas exigindo a quebra de seus sigilos bancário e fiscal, mas também pedindo sua prisão preventiva.

É a narrativa de praxe: suspeita de participação em um vasto esquema de fraudes, neste caso, envolvendo descontos indevidos em benefícios de aposentados. Os fundamentos oficiais para a restrição de liberdade e o destrinchamento de suas finanças incluem o clássico trio de riscos processuais: obstrução da justiça, intimidação de testemunhas e a temível ocultação de patrimônio.

No entanto, o espetáculo transcende a frieza dos autos. O que se desenha no palco da política nacional não é apenas a punição de um indivíduo por desvios previdenciários, embora a dimensão do suposto esquema, que sangrou os cofres públicos em milhões, seja assustadora. Estamos assistindo a algo mais profundo e fascinante: uma acirrada disputa pelo controle do sistema de poder brasileiro.
Quando um power broker dessa magnitude, acostumado a transitar com a desenvoltura de um grão-duque entre a alta sociedade, o Judiciário e o Legislativo, torna-se o alvo principal de uma comissão parlamentar, o subtexto se ilumina. O foco não reside apenas na busca por justiça para os aposentados espoliados, estes, os peões sacrificáveis do jogo, mas na reacomodação de forças em um tabuleiro onde o capital, a influência e a toga se misturam em um coquetel explosivo.

O silêncio eloquente de Wilians diante da CPMI, amparado por um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal, apenas acentua o sarcasmo do momento. O “tigrão das redes sociais”, que ostenta jatos, carros de luxo e uma adega invejável, recusa-se a assumir o compromisso de dizer a verdade ao Parlamento. A imagem do advogado-celebridade que, segundo críticos, inspiraria “apenas aqueles que buscam descumprir a lei”, é a caricatura perfeita de um sistema onde a ética, por vezes, é apenas um detalhe decorativo no contrato social.

A queda de um jogador desse calibre não se resume a um ato de depuração. É uma jogada estratégica que abre fissuras, realoca peças e permite que novos players, talvez menos visíveis, mas igualmente ambiciosos, ocupem os espaços recém-liberados.
No fim, a faxina moral prometida pode ser apenas o preâmbulo para a próxima rodada do jogo do poder, com o grand finale reservado para as cenas de glamour e riqueza, tudo, supostamente, financiado pelo contracheque minguado do aposentado. Uma crônica, afinal, sobre como o dinheiro nunca dorme e, no Brasil, a lei é apenas um detalhe caro.





