É oficial: o Campeonato Brasileiro 2025 está na fase em que a disputa pelo título é mais previsível que a crise de final de ano na economia do país. O Palmeiras, o time do “segue o jogo, tanto faz a data FIFA”, perdeu para o Mirassol (2 a 1, de bicicleta e tudo!), mas conseguiu a proeza de manter a liderança graças àquela regra maravilhosa de desempate chamada “mais vitórias”. Sim, em um campeonato onde a régua da excelência é ser menos inconsistente que o rival, o Verdão se agarra à ponta com 68 pontos, respirando por aparelhos e torcendo para o Flamengo (também com 68) tropeçar na própria Gávea.
A tabela é um sarcasmo ambulante: o Flamengo tem um ataque mais artilheiro (64 gols a 58) e um saldo de gols que beira a indecência (+44 a +30), o que deveria valer uns 3 pontos de bônus por “decência futebolística”, mas é o Palmeiras quem dorme em primeiro. A briga, de fato, não é sobre quem joga melhor; é sobre quem administra melhor o número de vitórias na beira do precipício.
Enquanto os gigantes paulista e carioca trocam farpas na crista da onda, a verdadeira “disruptura” veio do interior. O Mirassol, o time que subiu da Série B apenas para cumprir a cota de rebaixado surpresa, virou a coqueluche da temporada. Com 59 pontos e uma campanha que faria qualquer time de camisa se esconder sob a cama, o Leão Caipira não apenas venceu o líder, como se consolida no G-4.
Se a vaga na Libertadores 2026 for confirmada, será a prova cabal de que, no Brasil, a competência se tornou um fenômeno paranormal. O Mirassol, com suas probabilidades acima de 99% de ir para a competição continental segundo a UFMG (e eles entendem de probabilidade, o que é mais assustador), virou o pesadelo da elite: o time que ninguém convidou para a festa e que agora quer o lugar de honra na mesa.
Para culminar este espetáculo de contradições, o treinador Abel Ferreira ofereceu seu tradicional e esperado discurso sobre a Data FIFA. Perder até sete titulares, de Gómez a Flaco López é, para o português, um ato de martírio necessário. A postura é de estoica e elevada resignação: “Não pediremos desconvocação. Respeitamos as seleções.” Essa declaração é uma jogada de mestre em relações públicas. Ao se abster de qualquer pedido, Abel se coloca como o único técnico no Brasil que zela pela ordem e pela decência do futebol, contrastando com a “injustiça” do calendário que o priva de seu elenco. É o álibi perfeito: se o Palmeiras vacilar, o bode expiatório já está carimbado com o selo diplomático da FIFA. A Data FIFA é, portanto, a desculpa mais chique e a mais previsível do futebol brasileiro, garantindo que o foco não caia sobre a derrota para o Mirassol, mas sim sobre a “adversidade imposta”.





