Baleias, corais e naufrágios: a Bahia que te obriga a “abrir os olhos”

​No quintal de Caravelas, o Parque Nacional Marinho de Abrolhos é um aquário de superlativos onde a história encontra o mergulho de luxo.

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​Cansado da mesmice? Abrolhos, no extremo sul da Bahia, não é para amadores. O primeiro Parque Nacional Marinho do Brasil, estabelecido em 1983, é um arquipélago de cinco ilhas vulcânicas (Redonda, Siriba, Sueste, Guarita e Santa Bárbara, esta última sob a guarda da Marinha) que se projeta como uma miragem turquesa a 70 km da costa de Caravelas. Mas, atenção, se a lenda sobre a origem do nome diz respeito à cautela dos navegadores , “Abra os olhos!”, o turista moderno talvez deva abrir a carteira, e a mente, para o que é, indiscutivelmente, o maior espetáculo marinho do Atlântico Sul.

​O apelido de “berçário das Baleias Jubarte” não é mera poesia de folheto. De julho a novembro, esses gigantes migratórios chegam ao Banco de Abrolhos para procriar e amamentar, transformando o local no maior polo reprodutivo da espécie no Atlântico Sul Ocidental. É um privilégio assistir ao balé aquático, mas o whale watching é um nicho que exige paciência e o cumprimento estrito das regras do ICMBio.

​O reino submerso: chapeirões e fantasmas do mar

​Debaixo d’água, o cenário é igualmente dramático. Abrolhos possui a maior biodiversidade marinha do país, uma característica que despertou a curiosidade até de Charles Darwin em 1832. A estrela absoluta são os chapeirões: colunas maciças de coral, que podem atingir 20 metros de altura e 50 de diâmetro, estruturas recifais únicas que se assemelham a cogumelos gigantes. É neste labirinto mineral que vive o endêmico Mussismilia braziliensis, conhecido ironicamente como “coral cérebro”.

​Para o mergulhador, seja no “batismo” ou na imersão avançada, Abrolhos reserva uma atração que faz o viajante voltar no tempo: naufrágios. Além do famoso cargueiro italiano Rosalina, que colidiu com um chapeirão em 1939 e hoje é um recife artificial repleto de corais-de-fogo, o mergulho permite explorar cascos históricos como o do cargueiro alemão Santa Catarina, afundado pelos britânicos em 1914, sem um tiro, no início da Primeira Guerra Mundial.

​Caravelas: a “Cidade Base” que não parou no tempo certo

​Chegar a esse paraíso submerso exige uma escala estratégica: Caravelas. A cidade, que já foi crucial no século XVI para as rotas portuguesas e palco da violenta batalha naval de 1631 entre holandeses e luso-espanhóis, hoje se apresenta como a porta de entrada para o parque. O centro histórico, com casarões do século XIX e igrejas seculares, como a Catedral de Santo Antônio, sugere uma pausa no tempo.

​Não se engane, porém, pensando que o charme antigo é apenas um adereço. Caravelas é onde a logística de Abrolhos se articula, de onde partem os catamarãs e escunas, seja para o passeio de um dia (o cansativo “bate-volta”) ou para as expedições mais longas, com pernoite a bordo, que são a pedida dos mergulhadores mais sérios. É o contraste perfeito: a cidade pacata, que ostenta um esqueleto de baleia jubarte em seu Centro de Visitantes, serve de antessala para a exuberância que espera a 70 km, provando que, no Brasil, o luxo natural ainda é a melhor mercadoria.

​A Bahia não brinca em serviço. Se você busca uma experiência que não cabe em uma selfie qualquer, Abrolhos é um lembrete: o verdadeiro tesouro da Costa das Baleias está debaixo d’água.

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