A logística de aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade (Enem PPL) costuma ser um símbolo de ressocialização, mas em Caraúbas, no interior do Rio Grande do Norte, o protocolo pedagógico deu lugar ao operacional nesta quarta-feira (17). Três internos tentaram converter o deslocamento para as salas de prova em uma rota de fuga, utilizando uma “tereza”, corda artesanal feita de lençóis, para transpor os limites da unidade.
O plano, arquitetado no Pavilhão B da Cadeia Pública, pretendia aproveitar a movimentação incomum gerada pela aplicação do exame. Segundo a Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (Seap), a corda foi confeccionada por um grupo de detentos e repassada àqueles que seriam conduzidos ao local do exame.
A tentativa foi frustrada pelo sistema de videomonitoramento. Um policial penal detectou a movimentação atípica e acionou as equipes de plantão antes que os internos conseguissem acessar áreas externas. O incidente evidencia o constante desafio de equilibrar programas de reintegração social com o rigor necessário à custódia estatal.
Diferente das ocorrências em dias comuns, o reflexo desta tentativa de fuga foi acadêmico e punitivo. Como medida de segurança imediata, a Seap optou pelo cancelamento das provas do Enem PPL para todos os detentos do Pavilhão B.
O episódio levanta um debate recorrente no sistema penitenciário brasileiro: como as ações de uma minoria podem comprometer o acesso a direitos fundamentais de toda a massa carcerária. Para os que aguardavam o exame como uma chance de reduzir a pena ou ingressar no ensino superior, a quarta-feira terminou sem gabaritos, substituídos por procedimentos de revista e reforço da guarda.
A Seap reiterou, por meio de nota oficial, que a integração entre inteligência e vigilância presencial foi o que impediu o êxito da evasão, mantendo a estabilidade da unidade apesar da interrupção do calendário educacional.





