A logística brasileira, historicamente refém de uma malha rodoviária custosa e de um fluxo que ignora a lógica geográfica, começa a testar seu novo eixo de gravidade. Nesta quinta-feira (18), a Transnordestina Logística S.A. (TLSA) iniciou a fase operacional de testes no segmento que conecta o Piauí ao Ceará. Mais do que um avanço de engenharia, o sinal verde dado pelo Ibama representa o início de uma ruptura: a tentativa de converter o Nordeste no principal escoadouro de grãos do Matopiba e do Centro-Oeste.

O projeto, que já soma R$ 15 bilhões em investimentos, desafia o “absurdo logístico” de transportar safras do interior do país para os portos do Sudeste, uma rota que impõe custos extras de frete e tempo. Tufi Daher Filho, presidente da TLSA, projeta uma integração que não se limita aos trilhos próprios, mas que busca conexão com a Ferrovia Norte-Sul em Tocantins, forçando uma concorrência saudável entre os terminais de Itaqui (MA), Pecém (CE) e Suape (PE).
A estratégia da ferrovia sustenta-se em três pilares principais de carga:
– O “Ouro Branco” do Araripe: O gesso de Pernambuco, reconhecido pela pureza, hoje é limitado pelo custo do transporte. A meta é movimentar 1 milhão de toneladas anuais, tornando o produto competitivo no mercado global.
– Grãos e Fertilizantes: O Porto do Pecém prepara-se para uma metamorfose. Com um novo terminal ferroviário previsto para 2025, a estimativa é que sua capacidade operacional dobre em uma década.
- Entreposto em Salgueiro: O município pernambucano funcionará como um nó estratégico para a distribuição e consolidação de cargas no coração do estado.

Enquanto o ramal cearense avança com recursos do FDNE, o desafio imediato recai sobre Pernambuco. A governadora Raquel Lyra, em recentes agendas em Brasília e no setor privado, tem enfatizado que a viabilidade do trecho pernambucano é uma prioridade de Estado, buscando garantir que o desenvolvimento não seja assimétrico.
Sustentabilidade e Governança: O Avanço da Orizon e APONTI
Paralelamente à infraestrutura física, o setor de serviços e sustentabilidade vive movimentos tectônicos. A incorporação da Vital pela Orizon criou a maior plataforma de soluções ambientais da América Latina. O impacto é quantificável: a empresa agora gerencia resíduos de 18% da população brasileira.

A produção potencial de 2 milhões de m³ de biometano por dia posiciona a companhia como uma peça-chave na transição energética, com capacidade teórica para substituir o diesel de frotas inteiras de capitais brasileiras, gerando um ecossistema de 60 mil empregos.
No campo da tecnologia, a eleição de Ítalo Nogueira para a presidência da Aponti sinaliza uma profissionalização institucional. Com a criação de um Conselho de Administração e um rigoroso Código de Ética, a associação que reúne mais de 500 empresas de TIC busca transformar o Nordeste não apenas em um polo de carga, mas em um exportador de inovação e inteligência de mercado.

A convergência desses fatores, trilhos, energia limpa e governança tecnológica, sugere que o Nordeste está deixando de ser uma promessa de “potencial” para se tornar a fronteira de eficiência que o Brasil exige para o próximo ciclo econômico.





