O Hospital Universitário Alcides Carneiro (HUAC), em Campina Grande, tornou-se o epicentro de uma vigília epidemiológica rigorosa. Um homem de 50 anos, cuja identidade permanece preservada, ocupa um leito de UTI sob o peso de um diagnóstico que a modernidade raramente confronta: a suspeita de raiva humana. O quadro, descrito pela Secretaria Municipal de Saúde como de “forte compatibilidade clínica”, aguarda o veredito dos exames laboratoriais, enquanto o paciente atravessa o estágio mais agressivo da patologia.
A cronologia da enfermidade revela a velocidade implacável do vírus. Os primeiros sinais de mal-estar surgiram em 10 de dezembro; três dias depois, o sistema de saúde já não conseguia conter a evolução dos sintomas em uma unidade convencional. No dia 15, a transferência para a terapia intensiva tornou-se inevitável. O paciente agora sobrevive sob sedação profunda e ventilação mecânica, lutando contra uma instabilidade arterial e um comprometimento neurológico que a medicina classifica como gravíssimo.
O que diferencia este caso de outras encefalites é a presença de sintomas que parecem extraídos de tratados médicos centenários. A aerofobia, espasmos musculares involuntários provocados por simples correntes de ar e a agitação psicomotora intensa são assinaturas biológicas da raiva. Quando o vírus atinge o sistema nervoso central, ele desregula as funções vitais, transformando a consciência em um estado de confusão e pânico fisiológico.
O desafio clínico no HUAC é monumental. Historicamente, a raiva possui uma taxa de letalidade que beira os 100%. Protocolos experimentais, como o de Milwaukee, tentam reverter esse destino através do isolamento químico do cérebro, permitindo que o sistema imunológico produza anticorpos antes que o dano neuronal seja irreversível. Contudo, o sucesso dessas intervenções ainda é a exceção, não a regra.
Enquanto a equipe multiprofissional monitora cada oscilação pressórica do paciente, a vigilância sanitária local inicia o trabalho de campo. A investigação busca rastrear a origem da exposição, seja por contato com animais domésticos não vacinados ou, o que é mais comum em surtos recentes no Brasil, a interação com morcegos hematófagos.
Este caso em Campina Grande não é apenas um boletim médico; é um lembrete de que o saneamento, a vacinação animal e a agilidade no atendimento pós-exposição são as únicas barreiras reais entre a saúde pública e um vírus que, uma vez manifestado, raramente oferece chances de retorno.





