A fria vitória de 1 a 0 sobre o Ceará na última quarta-feira, no Maracanã, serviu apenas como um prelúdio protocolar. O verdadeiro espetáculo da noite, aquele digno de pay-per-view e manchetes, foi encenado a portas fechadas, reafirmando o compromisso do esquadrão rubro-negro não só com o gol, mas com a hipertrofia da celebração.

O placar econômico da partida foi inversamente proporcional à magnitude da festa que se seguiu madrugada adentro. O after party inicial, supostamente orquestrado pelo atleta Gonzalo Plata (cujo papel de anfitrião é tão discreto quanto o ronco dos motores na porta), começou no Alto da Boa Vista com um caos digno de reality show. Carros de luxo desfilavam numa rotatividade intensa, enquanto, em um balé social reverso, um batalhão de convidadas era educadamente (ou nem tanto) barrado. A exclusividade era tamanha que a porta de entrada operava mais como uma peneira que uma acolhedora recepção.
O resultado não poderia ser outro: em vez de aceitar o ostracismo, o jet set da celebração migrou em massa para a Barrinha. Lá, a festa atingiu seu clímax em uma escala quase militar: mais de 200 mulheres presentes, demonstrando que, se a comissão técnica não tem elenco de sobra, os organizadores da confraternização certamente o têm.

A madrugada seguiu fervorosa até que, por volta das 4h da manhã, o protocolo de check-out oficial foi acionado. Uma viatura policial fez sua aparição, não para encerrar a festa, mas, ao que parece, para apenas constatar que o expediente policial havia começado, enquanto o fervor da celebração estava longe de terminar. Deixaram o local, discretos, como quem entende que há compromissos inadiáveis.
O epílogo desta crônica noturna foi assinado por MC Poze, que partiu sob a luz matinal. No banco do carona, uma misteriosa acompanhante ostentava a camisa do Flamengo, talvez prestando a última homenagem ao clube que proporcionou o encontro.
Mas a verdadeira obra-prima da noite estava no flyer. O documento, regido por uma filosofia quase espartana, decretava a proibição sumária de celulares, sob a pomposa justificativa de “garantir total privacidade e imersão na experiência da noite”. Traduzindo do eufemismo corporativo: o que acontece fora do campo, deve morrer na fita isolante.
A lição que fica é que os jogadores do Flamengo dominaram, acima de tudo, a arte da discrição forçada. A festa não é apenas um momento de lazer; é um meticuloso exercício de gerenciamento de crise. Enquanto alguns se reúnem na casa de Carrascal (em uma celebração paralela que evitou o déjà vu da última polêmica), a regra é clara: o futebol é jogado com os pés, mas a imagem pública é defendida com o botão “power off” dos smartphones. E, nisso, o time deu um banho.
E eu aqui, imaginando o cabaré.





