Passados pouco mais de uma semana da denominada Operação Contenção, a intervenção policial mais fatal na história do Rio de Janeiro, que mobilizou 2.500 agentes nos Complexos do Alemão e da Penha, o alto custo em vidas, com 117 suspeitos e quatro policiais mortos, além de 99 prisões, contrasta com a rápida reafirmação territorial do crime organizado. A intensa ofensiva, que empregou a tática do “Muro do Bope” para empurrar os criminosos em direção à mata da Serra da Misericórdia, visava a desestruturação do que é considerado o quartel-general do Comando Vermelho (CV) no estado.

No entanto, o regresso à rotina da vigilância criminosa expõe a resiliência estrutural da facção. Um ponto de observação estratégico, situado no Engenho da Rainha, nos arredores da Favela da Flexal, área controlada pelo CV, foi flagrado em plena atividade. Acima das moradias e com vista privilegiada para vias importantes como a Estrada Adhemar Bebiano, um indivíduo em vestimenta camuflada, tática já mapeada pelas forças de segurança durante a operação, mantinha a guarda. A cena, ao lado de uma pedreira e de uma rudimentar estrutura de alumínio e madeira, revela que o domínio visual e estratégico da geografia montanhosa permanece uma prioridade inegociável para o tráfico.

A estratégia policial de “forçar o deslocamento” dos traficantes para a Serra da Misericórdia, onde o Bope aguardava, focou na ocupação desse maciço florestal que atua como fronteira natural e rota de fuga entre as comunidades. Fontes da polícia militar já descreveram a área como um local onde grupos criminosos, que contam com treinamento e táticas militares, constroem barricadas concretadas e trincheiras, transformando o ecossistema em uma verdadeira estrutura de guerra.

Victor César dos Santos, Secretário de Segurança Pública do Rio, reconheceu a complexidade do desafio. Em declarações, ele sublinhou que uma operação isolada não tem o poder de erradicar o crime enraizado há décadas, com estimativas apontando para a presença de até mil criminosos na região. A tônica do poder público se desloca, assim, para a necessidade de um esforço continuado e mais profundo, mirando não apenas a captura, mas o sufocamento financeiro das organizações, atacando a lavagem de capitais e o branqueamento dos recursos ilícitos.

A megaoperação, apesar de sua letalidade e do expressivo número de fuzis apreendidos, apenas roçou a superfície do problema. A imagem do vigia camuflado, com seu olhar atento sobre o território logo após o maior cerco policial do estado, não é apenas um registro jornalístico; é a metáfora da persistência do crime organizado. O desafio, agora, transcende a incursão ostensiva e exige a articulação de uma inteligência financeira e de um planejamento que torne o “negócio do crime” insustentável a longo prazo, substituindo, sempre que possível, o alto custo social das táticas bélicas por ações cirúrgicas e investigativas qualificadas.





