A cidade de Nova York, tradicionalmente um bastião do Partido Democrata, testemunhou uma inflexão política nas urnas. O pleito para a prefeitura, realizado na última terça-feira, 4 de novembro, consagrou Zohran Mamdani, de 34 anos, como o novo líder do executivo municipal. A vitória não é apenas histórica por ele ser o primeiro muçulmano a assumir o cargo, mas também por sinalizar um avanço significativo da ala socialista democrática no coração financeiro dos Estados Unidos.
Mamdani, nascido em Uganda, de ascendência indiana e com uma trajetória que o levou a atuar como rapper antes de se engajar na política, conquistou a prefeitura com uma margem de mais de 50% dos votos, superando o candidato independente Andrew Cuomo, ex-governador do estado, e o republicano Curtis Sliwa. O resultado reflete uma notável participação popular, a maior em uma eleição municipal desde 1969, impulsionada pelo apoio de jovens eleitores e grupos minoritários.
A ascensão de Mamdani, que já havia vencido Cuomo nas primárias democratas, é a materialização de uma plataforma que coloca o custo de vida e a desigualdade no centro do debate. Suas propostas incluem a implementação de creche universal e gratuita para crianças de 6 semanas a 5 anos, o congelamento de aluguéis em unidades subsidiadas, a criação de supermercados de propriedade municipal para garantir alimentação acessível e, notavelmente, a gratuidade dos ônibus em toda a cidade, beneficiando mais de um milhão de nova-iorquinos, majoritariamente de classes média e baixa. Para financiar essas iniciativas, ele propõe um aumento na tributação dos moradores mais abastados e das grandes corporações, o que exigirá negociação com a Assembleia Estadual e a governadora Kathy Hochul.
O discurso de Mamdani, que combina a defesa de pautas progressistas radicais com uma postura firme contra o conservadorismo nacional, rapidamente o tornou uma figura polarizadora. O ex-presidente Donald Trump chegou a intervir na reta final da campanha, rotulando o democrata de “comunista” e “inimigo dos judeus”. Em resposta, o prefeito eleito desafiou o magnata, afirmando que sua vitória era a derrota das forças que tentaram impor a islamofobia na política da cidade.
A eleição em Nova York, somada às vitórias democratas para o governo em Virgínia e Nova Jersey, é interpretada por analistas como um importante termômetro político, apontando uma resistência à onda conservadora e um impulso para a renovação ideológica dentro do próprio Partido Democrata. Mamdani, membro dos Socialistas Democratas da América (DSA), representa uma nova geração de líderes que, como Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez, buscam uma reorientação do partido em direção a uma agenda mais combativa em questões de justiça social e econômica.
A posse de Zohran Mamdani está marcada para 1º de janeiro de 2026. A partir dessa data, Nova York se tornará um laboratório de políticas urbanas progressistas, colocando em xeque as prioridades do capitalismo global e prometendo uma batalha ideológica que promete ecoar por todo o cenário político americano.
