Choque de narrativas: a ‘matança’ do Rio sob a lupa federal

​Presidente Lula contesta 'sucesso' da operação policial mais letal, evidenciando cisma com o Governo Estadual

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A megaoperação policial realizada no Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho, que resultou em 121 mortes, incluindo quatro policiais, transformou-se em um foco de tensão e investigação em nível federal. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu primeiro pronunciamento sobre o caso, classificou a ação como uma “matança” e um evento “desastroso” do ponto de vista da atuação do Estado, apesar de reconhecer que a contagem de óbitos poderia ser vista como um “sucesso” em uma perspectiva meramente numérica.

​A crítica presidencial, externada em entrevista a veículos internacionais na capital paraense, sublinha a intenção do governo federal de aprofundar a apuração das circunstâncias das mortes. Lula indicou que a União está buscando a participação de legistas da Polícia Federal para integrar o processo investigativo, enfatizando que a ordem judicial era de prisão dos suspeitos, e não de execução.

​”A decisão do juiz era uma ordem de prisão. Não tinha ordem de matança e houve uma matança. É importante a gente verificar em que condições ela se deu,” pontuou o presidente.

​Esta postura federal contrasta diretamente com a do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), que rotulou a incursão nos Complexos da Penha e do Alemão de “sucesso” e garantiu que o procedimento policial seguiu os preceitos constitucionais. O governador chegou a reunir-se com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para defender a legalidade da conduta das forças de segurança.

​A discordância na cúpula governamental não se restringe ao presidente. Guilherme Boulos, titular da Secretaria-Geral da Presidência da República, já havia questionado publicamente a metodologia empregada pela polícia fluminense no combate às facções. O ministro defendeu uma abordagem mais inteligente e menos demagógica no enfrentamento ao crime organizado, sugerindo que o núcleo da criminalidade não reside apenas nas comunidades carentes.

​Boulos argumentou que “a cabeça do crime organizado desse país não está no barraco de uma favela, muitas vezes está na lavagem de dinheiro lá na Faria Lima”, citando o centro financeiro de São Paulo e operações da Polícia Federal que expuseram a sofisticação do crime, como a “Carbono Oculto”.

​Com a Operação Contenção sendo a mais letal da história do estado, a divergência entre o Executivo federal e o estadual coloca em destaque o debate nacional sobre segurança pública, o uso da força policial e a necessidade de investigações independentes, um ponto também defendido pela Organização das Nações Unidas (ONU), para garantir a responsabilização e interromper o ciclo de brutalidade.

Dados parciais da Polícia Civil indicam que, dos mortos, a maioria possuía histórico criminal e uma parte significativa era oriunda de outros estados, com destaque para a Região Norte, revelando uma dimensão interestadual do Comando Vermelho.

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