O boom da Inteligência Artificial (IA) deu um passo atrás, ou melhor, calçou a luva de pelica da legalidade. A OpenAI, dona do onipresente ChatGPT, promoveu uma guinada conservadora. A partir do final de outubro, o chatbot, que já foi (e para muitos ainda é) o “Dr. Google” dos esteroides, aposentou o jaleco, o terno e o colete de consultor. Ele foi rebaixado (ou promovido, dependendo do grau de ironia) a uma singela ferramenta educacional. A mudança é clara: ele não mais oferece “conselhos personalizados” nas áreas espinhosas da saúde, direito e finanças.

A verdade é que o ChatGPT cansou de ser o Cristo Redentor digital, o ombro amigo high-tech que a clientela humana insistia em usar como substituto de especialistas licenciados. Se um usuário decidia trocar a bula pela prompt, era problema dele, certo? Não, errado. A OpenAI percebeu que a irresponsabilidade da turba poderia, no fim das contas, virar um problemão legal e ético para ela. O pânico desnecessário e a adoção do sistema como “médico virtual” ou “terapeuta”, apesar da confessa incapacidade da IA de fazer exames, entender emoções ou assumir responsabilidade profissional exigida por lei, acenderam a luz vermelha.
A medida é simples, mas hilária em sua premissa: proteger a empresa dos riscos de privacidade (afinal, quem nunca compartilhou um histórico médico ou dado bancário com a IA?) e, principalmente, das responsabilidades legais de um mau conselho. O robô da OpenAI, agora mais discreto e menos personal trainer de investimentos ou braço-direito de processos jurídicos, se limita a explicar princípios gerais.

Em outras palavras, o ChatGPT passou a fazer o que qualquer buscador faria, mas com uma voz mais bonita. Ele te dá a teoria, mas para a prática, para o receituário, a dosagem exata, a dica de investimento que não vai te levar à bancarrota ou o modelo de petição que vale um processo, ele manda, com a delicadeza de um intelectual recém-formado: “Procure um médico, advogado ou profissional financeiro, por favor”.
É a velha máxima que volta à tona: a tecnologia avança, mas o julgamento humano e a ética profissional continuam sendo um bem escasso e insubstituível. O ChatGPT não vai mais te dizer qual remédio tomar ou onde investir o seu dinheiro. A máquina, afinal, provou que não está disposta a pagar a conta da nossa própria burrice. A IA pode ser disruptiva, mas a vida real ainda exige um CPF, um diploma e a capacidade de ser responsabilizado. O show da irresponsabilidade artificial foi cancelado em 29 de outubro, e o público terá que voltar a pagar por um conselho de verdade. Que pena. Ou seria: que alívio?
				
											




