Paraíba em alerta: o que diz o aumento brutal de estupros sobre a masculinidade (?) típica?

​Dez meses de 2025 registram mais de mil vítimas, forçando uma reflexão sociológica sobre o comportamento masculino e a cultura da dominação.

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​A Paraíba assiste a um cenário de violência sexual com números que demandam mais do que manchetes, exigindo uma investigação profunda sobre as raízes do comportamento masculino que a impulsiona. Os dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública são inequívocos e perturbadores: 1.072 vítimas de estupro contabilizadas entre janeiro e setembro de 2025, uma média diária de quatro casos. O patamar atingido é o pior desde 2015, representando uma escalada de 405% na série histórica.

Foto: Pixabay

​Mais alarmante que o volume total, com picos em maio (139 casos) e setembro (135 casos), é a dimensão de gênero da violência. A maioria das vítimas, 125 apenas em setembro, é composta por mulheres, o que ressalta a predominância de agressores do sexo masculino. Tal disparidade não é uma coincidência estatística, mas um sintoma de estruturas sociais em que o corpo feminino é subjugado, evidenciando que o estupro transcende o impulso sexual, sendo, na verdade, um ato de poder e controle.

​Em um contexto onde estudos sociológicos e psicológicos apontam para a construção social da masculinidade como um fator central na perpetuação da violência, o silêncio e a normalização de certas atitudes masculinas tornam-se cúmplices. A agressão sexual, para o perpetrador, frequentemente se manifesta como uma demonstração perversa de domínio, ligada a uma internalização de que a força e a coerção são ferramentas legítimas para impor a vontade e exercer a sexualidade. Pesquisas sobre o tema revelam que, para muitos, a violência sexual não é apenas o resultado de uma falha individual de caráter, mas sim uma expressão extrema da cultura da dominação masculina.

Imagem: Pixabay

​A explosão de casos na Paraíba, com um aumento de 27% em relação ao ano anterior, desafia a sociedade a questionar o que está sendo ensinado, permitido e silenciado nas interações cotidianas. O homem-agressor, muitas vezes, não é um estranho à vítima, e o estupro pode ser precedido ou acompanhado por abuso psicológico, isolamento e depreciação, conforme indicam especialistas em comportamento e violência.

​É imperativo que a discussão ultrapasse a culpabilização da vítima ou a simplificação do agressor como um “monstro”. Os números do estado nordestino impõem a urgência de debater como as normas rígidas de masculinidade, que associam a virilidade ao controle e à agressão, contribuem para esse ciclo de violência. A segurança pública e a justiça precisam de respostas imediatas, mas a sociedade tem a responsabilidade indelegável de desmantelar, no campo do comportamento e da cultura, a ideia de que o homem é inerentemente incapaz de controlar sua agressividade ou que seu desejo é um salvo-conduto para invadir o corpo alheio. O dado alarmante da Paraíba não é apenas um registro policial; é um espelho que reflete uma crise profunda na identidade e responsabilidade masculina.

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