Uma fotografia marcante, conhecida desde 1961 como “O último judeu em Vinnytsia”, finalmente ganhou novo contexto e uma provável identidade do seu autor. O historiador Jürgen Matthäus, ex-chefe do departamento de pesquisa no Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, revelou que a imagem não foi feita em Vinnytsia, mas na cidade de Berdychiv, cerca de 150 km a sudoeste de Kiev, em julho de 1941. Mais surpreendente ainda é que o homem que segura a arma na foto, que representa a execução em massa de judeus pelo regime nazista, foi identificado como Jakobus Onnen, membro da SS, com uma probabilidade de 99% de acerto.
A investigação ganhou fôlego após um leitor identificar semelhanças entre a imagem divulgada e um parente próximo da esposa, ampliando o escopo da apuração. Mesmo com a perda das correspondências originais enviadas do front, as fotografias guardadas pela família foram fundamentais para um exame minucioso. Voluntários do coletivo Bellingcat aplicaram técnicas avançadas de inteligência artificial para confrontar os arquivos visuais, revelando detalhes que desafiam versões anteriores e sugerem possíveis conexões até então negligenciadas.
Esse avanço surgiu após a análise detalhada dos diários de guerra do soldado austríaco Walter Materna, da Wehrmacht, que documentou o massacre naquela região. A fotografia encontrada entre essas anotações possui melhor definição e uma inscrição que confirma a data e o local, corrigindo décadas de interpretações equivocadas. A imagem, até então vinculada a um sobrevivente que a teria recebido em 1945, simboliza o esforço contínuo para resgatar a memória das vítimas anônimas do Holocausto.
Matthäus ressalta que a identificação das vítimas e, agora, dos perpetradores, representa um passo crucial para aprofundar o entendimento histórico. Ele aponta que a combinação de colaboração interdisciplinar, inteligência coletiva e tecnologias avançadas pode ampliar significativamente a capacidade de pesquisa, possibilitando a descoberta de relatos inéditos em cartas, diários e outras fontes ainda a serem exploradas.
Este episódio reforça que a história do Holocausto ainda guarda muitos enigmas, e que o trabalho meticuloso de pesquisadores, aliado a instrumentos modernos, tem potencial para desvendar novas verdades sobre um dos períodos mais sombrios da humanidade.