Uma incursão realizada recentemente pela Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) em parceria com a Vigilância Sanitária de Quipapá encontrou um laboratório improvisado de bebidas no distrito de Usina Água Branca, zona rural do município agrestino. No local, as equipes recolheram 26 galões de líquido suspeito, 30 grades de bebidas alcoólicas e diversos recipientes vazios, além de equipamentos rústicos usados no processo de envase.
A operação foi deflagrada após denúncias sobre a produção e distribuição de bebidas de origem duvidosa. Quando chegou ao local, o grupo observou caixas d’água adaptadas como tanques de mistura e um botijão com torneira acoplada para engarrafamento. Seis sacos com vasilhames vazios também estavam armazenados no espaço.
O homem de 59 anos apontado como responsável afirmou que havia começado a atividade clandestina em 2017. Ele relatou que adquiriu o líquido em Bezerros e transportava cerca de 200 litros por mês até sua base de produção. Todo o material foi removido e apresentado à autoridade policial competente, com apoio da prefeitura, da guarda municipal local e das ações da Vigilância Sanitária.
A Polícia Civil de Pernambuco (PCPE) instaurou inquérito para investigar a origem do produto apreendido, rastrear redes de distribuição e averiguar se há relação com casos suspeitos de intoxicação registrados no estado.
Alerta nacional: o surto de metanol em foco
O episódio em Quipapá ganha ainda mais relevância frente ao aumento de casos de intoxicação por metanol no Brasil. O Ministério da Saúde classificou a situação como um Evento de Saúde Pública e reforçou a necessidade de notificação imediata de casos suspeitos.
Até agora, foram registradas 43 notificações em âmbito nacional, sendo 39 em São Paulo, com 10 casos confirmados e 29 em investigação e 4 em Pernambuco, todos sob apuração. Em São Paulo, ao menos um óbito foi confirmado, e outros cinco permanecem em investigação.
As autoridades federais caracterizam o padrão observado como “incomum” e novo na série histórica de intoxicações por metanol. Normalmente, o Brasil registra cerca de 20 casos por ano dessa natureza, o que torna os números recentes atípicos.
No plano federal, foi montada uma Sala de Situação para monitorar o surto, reunindo ministérios, agências reguladoras e secretarias estaduais de saúde.A Anvisa, por sua vez, acionou contatos internacionais para obtenção do antídoto fomepizol, ainda sem registro no Brasil.
Entendendo os riscos e medidas emergenciais
O metanol (álcool metílico) não deve estar presente em bebidas para consumo humano, quando ingerido, é convertido pelo organismo em formaldeído e ácido fórmico, compostos tóxicos que podem comprometer visão, sistema nervoso central e provocar morte.
Os sintomas iniciais são vagos: náuseas, vômitos, dor abdominal e fraqueza. Em 6 a 24 horas, evoluem para visão embaçada ou perda visual, confusão mental e comprometimento grave de órgãos. No atendimento clínico, utiliza-se etanol farmacêutico como antídoto, em doses controladas e sob supervisão médica, além de terapias como hemodiálise, dependendo da gravidade. É fundamental não aguardar evolução grave: diante de sinais após consumo de bebida suspeita, o paciente deve buscar auxílio imediatamente e acionar o CIATox local.
Entre as recomendações à população estão: evitar bebidas sem rótulo ou lacre visível, solicitar nota fiscal, desconfiar de preços muito baixos e denunciar estabelecimentos irregulares à Vigilância Sanitária.





