Em uma ação que surpreendeu o centro comercial de Fortaleza, o Ibama coordenou uma operação de grande envergadura em uma feira livre da capital cearense, onde dezenas de espécies silvestres eram comercializadas ilegalmente. Agentes de dez estados e do Distrito Federal participaram da ofensiva, que resultou no resgate de quase 300 animais entre jabutis, aves exóticas e papagaios, muitos dos quais estavam expostos em gaiolas lotadas ou mesmo escondidos dentro de mochilas.
A força-tarefa culminou na autuação de 34 pessoas com multas que ultrapassam os R$ 460 mil e na detenção de quatro suspeitos de tráfico de animais. Segundo estimativas dos investigadores, até metade dos animais comercializados ilegalmente morrem durante o transporte ou na feira devido ao estresse térmico, falta de água ou superlotação.
Os animais resgatados foram encaminhados ao Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama, onde equipes especializadas em veterinária e biologia avaliam o estado de saúde e decidem o destino mais adequado, seja a reabilitação, permanência em locais autorizados ou soltura controlada, quando possível. Conforme a coordenação do Ibama, alguns espécimes não resistem e permanecem sob cuidados permanentes ou são destinados a criadouros conservacionistas autorizados.
A investigação por trás da ação teve meses de trabalho. De acordo com fontes locais, o comércio criminoso era estruturado e contava com redes interestaduais que abasteciam feiras e pontos clandestinos. Em junho de 2025, por exemplo, a Polícia Federal e o Ibama já haviam deflagrado a Operação Aracê III no Ceará, com 15 mandados de busca e apreensão para combater o tráfico e comércio ilegal de aves.
A Polícia Civil do Ceará (PCCE) também atuou como apoio local em flagrantes correlatos. Em setembro, um suspeito foi preso por manter aves silvestres ameaçadas de extinção em cativeiro no bairro Messejana; foram resgatados papagaios, periquitos e outras espécies que seguiam para avaliação no CETAS/Ibama.
A repercussão da operação expõe mais que um mercado ilegal: evidencia a fragilidade da fauna diante do comércio predatório e revela que atos tão próximos da vida urbana acontecem sob o véu da normalidade. As autoridades reforçam um pedido à sociedade: “silvestre não é pet”, e denúncias são fundamentais para desmantelar redes criminosas.
Além do flagrante, a operação inaugura mais uma frente de combate ambiental no Ceará, que já promove solturas e readaptações de animais traficados. Em junho de 2024, o governo estadual, em parceria com Ibama e ONG, conduziu a soltura prévia de macacos-prego que haviam sido vítimas desse tipo de crime.
O capítulo segue aberto: investigações continuam, pessoas responderão individualmente, e a principal pergunta permanece; quantas centenas de animais silvestres já foram vendidos nesse tipo de comércio?





