A cidade de Canudos, localizada no semiárido da Bahia, guarda em suas ruas mais do que o calor característico do sertão. A 405 km de Salvador, a cidade ergue-se à sombra das águas do açude de Cocorobó, um imenso reservatório criado nos anos 1950, cujas águas submergiram o antigo arraial de Canudos, um marco histórico que foi o cenário de um dos mais sangrentos conflitos da história brasileira.

Em 2026, a Guerra de Canudos, que teve seu início em 1896, completará 130 anos. Esse episódio trágico, que envolveu uma sangrenta batalha entre o Exército Brasileiro e os moradores do arraial, conhecidos como “canudenses”, ressurge como um ponto central de debate, tanto sobre a memória histórica do Brasil quanto sobre a questão da reparação. O confronto, que resultou em milhares de mortes e na destruição do arraial, deixou uma marca profunda na identidade do sertão e do país como um todo.

Naquele momento, Antônio Conselheiro, líder religioso e carismático, conduziu os moradores em uma resistência heroica contra as forças do governo, que temiam o crescimento de seu poder e a influência de sua liderança sobre o povo do sertão. A derrota dos canudenses e o massacre subsequente permanecem como um dos episódios mais dolorosos da história militar do Brasil.

Hoje, as memórias da guerra ainda estão vivas, mas de forma muitas vezes esquecida ou marginalizada. O massacre de Canudos, que destruiu não apenas a comunidade, mas também a dignidade de um povo, continua sendo um símbolo de resistência, mas também de um sistema de poder que tentou silenciar as vozes de quem não se submetia ao regime central. As discussões sobre como contar essa história, e sobre a reparação histórica para os descendentes daqueles que sofreram nas mãos do Exército, continuam a gerar divisões.
A cidade de Canudos, erguida após o fim do conflito e a construção do açude, continua a viver sob a sombra dessa história, mas também, com o tempo, busca reconstruir e preservar o legado das suas origens. Ao completar 130 anos, a Guerra de Canudos não apenas se refaz como um marco de resistência popular, mas também se coloca como um importante tema para o debate público sobre direitos, memória e a luta por justiça social no Brasil.
				
											




