A temporada de prêmios em Hollywood mal começou e já tem brasileiro na roda das previsões. O longa O Agente Secreto, trabalho de Kleber Mendonça Filho, aparece nas listas da Variety e da Hollywood Reporter como candidato a brigar em categorias pesadas do Oscar 2026: melhor filme internacional, direção e ator. Mas o que realmente pegou o público de surpresa foi um nome quase improvável: Tânia Maria, artesã do Rio Grande do Norte que, aos 78 anos, surge como possibilidade para melhor atriz coadjuvante.
Não que a academia esteja rolando tapete vermelho na porta dela, na Variety, Tânia ocupa a 25ª posição no ranking, enquanto a THR a coloca no 17º lugar. Distante? Sim. Mas o simples fato de uma iniciante nordestina superar veteranas como Laura Dern, Sissy Spacek e Mia Goth já serve de nota de rodapé histórica.
E pensar que tudo começou num almoço improvisado no set de Bacurau (2019). Escalada como figurante, Tânia acabou puxando cadeira na mesa de Kleber, Juliano Dornelles e Leonardo Lacca. Entre garfadas, conquistou os diretores. O encontro rendeu convites: de documentário (Seu Cavalcanti) a série policial (Delegado, com estreia prevista para 2026). No caminho, ainda cruzou com produtor que a escalou para Yellow Cake, rodado na Paraíba.
Em O Agente Secreto, a veterana tardia encarna Dona Sebastiana, personagem escrita sob medida por Kleber, que não resistiu em incluir seu vocabulário e trejeitos no roteiro. A personagem dá guarida ao protagonista de Wagner Moura, numa Recife marcada por perseguições. Para Tânia, o desafio foi encarar um texto cheio de alterações e compensar com kits de banheiro artesanais que presenteou ao colega de cena.
Antes de virar atriz, a potiguar nunca havia entrado numa sala de cinema. Agora, é figura disputada em estreias e mostras, e já trocou confidências até com o presidente Lula, em Brasília. Questionada pelo mandatário sobre o que precisava, Tânia dispensou asfalto e campo de futebol no povoado de Cobra, em Parelhas, e pediu apenas mais filmes.

A corrida ao Oscar é longa, incerta e, muitas vezes, cruel. Mas se depender do carisma e da espontaneidade de Tânia Maria, Hollywood pode se ver diante de uma campanha que nenhum assessor de marketing seria capaz de planejar.