Entre luas e mentiras: A primeira viagem intergaláctica da história que (não) aconteceu!

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Luciano de Samósata, um dos grandes satiristas da Antiguidade, criou em sua obra História Verdadeira um dos primeiros exemplos do que hoje reconhecemos como ficção científica e fantasia. A obra, escrita no século II d.C., apresenta uma jornada surreal e absurda de um grupo de aventureiros que, ao ultrapassar os Pilares de Hércules, acabam transportados para a Lua, onde participam de uma guerra interestelar antes de voltar à Terra. Este relato fantástico é considerado uma sátira inteligente das narrativas mitológicas e históricas da época, como as de Homero, e reflete a intenção de Luciano em questionar a veracidade dos textos que alegam relatar fatos históricos.

A paródia é evidente no título: “História Verdadeira”, uma irônica contraposição entre o que é “verdade” e o que é “fábula”. Luciano, no prólogo, é bastante claro sobre a falsidade de seu relato, afirmando que tudo o que se lerá é, na realidade, inventado. Isso joga com a confiança que os leitores depositam nas fontes da época. Muitos autores antigos misturavam mito e realidade em suas histórias, e Luciano critica isso ao criar uma narrativa em que nada é verdadeiro, nem mesmo o título.

A inclusão de elementos como extraterrestres, naves voadoras e guerras interplanetárias diferencia sua obra, principalmente por esses temas serem raríssimos na literatura da época. Em vez de deuses intervindo nos conflitos humanos, temos criaturas de outros mundos, e isso marca História Verdadeira como uma obra muito à frente de seu tempo. As aventuras fantásticas de seus personagens, que incluem viagens à Lua e batalhas cósmicas, podem ser vistas como precursores de obras modernas de ficção científica.

O humor, a crítica social e a visão irônica da realidade perpassam toda a obra, tornando-a um marco não apenas na literatura fantástica, mas também na filosofia e na crítica cultural. Diferentes estudiosos classificam História Verdadeira de maneiras variadas: alguns veem nela uma obra de fantasia, outros uma sátira pura, enquanto outros a interpretam como uma primeira tentativa de ficção científica. Esta última classificação se deve ao fato de que Luciano cria um mundo regido por regras próprias, onde a lógica do possível é desafiada e superada, uma característica que se tornaria central no gênero de ficção científica.

A obra de Luciano é, portanto, um híbrido literário, que transita entre o humor ácido, a fantasia e a crítica social, questionando não apenas as verdades da história, mas também as da própria literatura.

Essa mistura de estilos torna História Verdadeira uma obra essencial para entender as origens do que hoje chamamos de ficção científica, ao mesmo tempo que mantém seu caráter atemporal, proporcionando uma leitura que pode ser tão envolvente hoje quanto era há quase dois mil anos.

Por Hermano Araruna

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