Quando o ano de 2019 começou, já na condição de ex-governador, Ricardo Coutinho era apontado incontestavelmente como a maior liderança política da Paraíba. Além de lograr êxito na eleição de seu candidato ao governo, RC derrotara uma coligação de tradicionais adversários políticos que sequer conseguiram levar a disputa para o segundo turno.
Dois anos depois da incontestável vitória, RC foi obrigado a concorrer à Prefeitura de João Pessoa. Na cidade que o consagrara com seguidas vitórias desde 2004, quando se elegeu prefeito pela primeira vez, Coutinho não chegou a 10% dos votos na eleição de 2020, uma reversão no prestígio político que ninguém jamais imaginaria dois anos antes, sobretudo num interregno tão curto de dois anos entre uma eleição e outra. O que aconteceu para produzir um efeito tão devastador na carreira política de Ricardo Coutinho? Qualquer paraibano minimamente informado sabe responder a essa pergunta: a Operação Calvário.
Quatro anos depois, às vésperas de começar a campanha que pode reelegê-lo pela segunda vez prefeito de João Pessoa — a julgar pelas pesquisas, com amplo favoritismo, — Cícero Lucena começa a olhar para seu futuro político com dúvidas, pois ele já não parece mais tão luminoso.
É que a Polícia Federal colocou em andamento, hoje, a chamada Operação Mandare com o objetivo de desarticular um grupo criminoso com atuação na Prefeitura de João Pessoa.
Segundo matéria do Jornal da Paraíba:
“A investigação teve início após se observar a intensa movimentação financeira do grupo investigado, uma vez que se valeria de pessoas interpostas para operacionalizar valores referentes às atividades criminosas, especialmente o tráfico de drogas.
No decorrer da investigação, com o seu aprofundamento, foi observado que um preso do sistema penitenciário estadual, o qual tem posição de liderança em organização criminosa, articulou a obtenção de vantagens em órgão público, notadamente cargos, em contrapartida a apoio que dá a agentes públicos para adentrarem em comunidades controladas ou que sofrem forte influência do crime.”
Lembrei de declarações recentes do prefeito de Cabedelo, Vitor Hugo.
Embora não se saiba ainda a extensão do que as investigações podem revelar e do grau de envolvimento e responsabilidade de membros proeminentes da administração pessoense, o que até agora veio a público tem potencial para causar, no curto prazo, prejuízos políticos à imagem do prefeito pessoense e, no mínimo, tornar a disputa pela Prefeitura de João Pessoa imprevisível.
E a ação da PF vem começa em um momento crítico, já que era esperado para os próximos dias, por exemplo, o anúncio da posição do PT, que tendia cada vez mais para o apoio à reeleição de Cícero Lucena. Com esse novo fato, essa expectativa pró-Cícero se mantém no PT? O mais provável é que essa decisão seja adiada mais uma vez, ou então que seja ratificada a decisão de lançamento de candidatura própria, o que seria considerado uma derrota política para Lucena, decisão que seria atribuída à Operação Mandar. Um baque a jogar ainda mais água no moinho da oposição pessoense.
Além disso, tem o PSB. Como deve se comportar daqui para frente o partido do governador? Imagino que os socialistas vão esperar para conhecer o tamanho do estrago político que as investigações podem produzir para decidirem se mantêm ou não a posição de apoio à reeleição de Cícero Lucena.
Como eu disse, o futuro de Cícero Lucena se tornou incerto. Se sua reeleição ficou inviável, isso só o tempo vai dizer.
Por Flávio Lúcio Vieira/Pensamento Múltiplo