Aos 12 anos, Laís Vitória viveu um daqueles momentos que desmontam qualquer tentativa de neutralidade jornalística: ouviu a voz da mãe pela primeira vez. Diagnosticada com surdez profunda ainda bebê, a adolescente de Vertentes, no Agreste pernambucano, teve o implante coclear ativado no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), no Recife, e reagiu com a emoção de quem inaugura um mundo que sempre esteve ali, mas nunca acessível.
O vídeo gravado por Poliana Barbosa, mãe da jovem, viralizou rapidamente. É curto, simples e direto: uma filha, uma mãe e uma conquista aguardada por mais de uma década. “Eu esperei 12 anos por isso”, disse Poliana, entre alívio e incredulidade.
Laís é acompanhada pelo Imip desde os 1 ano e 5 meses e passou pela cirurgia em outubro. Quase um mês depois, o aparelho externo do implante foi ligado e programado. O que veio a seguir não é o final da história, é o começo.
Segundo a fonoaudióloga Rita Fernandes, responsável pela reabilitação da adolescente, a ativação não entrega compreensão imediata. Entrega som. O entendimento, explicou ela, é construído como se o cérebro reiniciasse um sistema que nunca havia operado. “O paciente nasce para a audição naquele momento”, disse. Daí em diante, o processo é contínuo: consultas, ajustes e sessões semanais para decodificar o que chega aos ouvidos.
A equipe médica destaca que o caminho até o implante é tão rigoroso quanto longo. Antes da cirurgia, o paciente passa por avaliação multidisciplinar, otorrinolaringologia, fonoaudiologia, psicologia e serviço social que determina se a tecnologia realmente é o próximo passo. Para muitos, como Laís, o aparelho auditivo convencional não basta.
Entre exames, filas, consultas e esperas, Laís ainda enfrentou outra ruptura dura: a perda do pai aos 10 anos. A travessia, no entanto, ganhou novos contornos na quarta-feira em que o som se tornou possível. A mãe chama de milagre. Os médicos chamam de ciência aplicada. No fim, talvez seja um pouco dos dois.
Para a adolescente, esse início tardio não significa atraso, significa reconfiguração. A cada voz reconhecida, a cada ruído decifrado, existe um aprendizado que depende tanto da precisão dos ajustes quanto da presença da família. “Não é mágica”, resume Rita Fernandes. É trabalho. E, no caso de Laís, é também reencontro: com a infância que ainda pulsa, com o mundo que agora vibra e com uma nova forma de existir dentro dele.





