No coração da Amazônia, um ato do pajé da tribo Tapajós converteu a pintura corporal em um poderoso manifesto social. Ao tingir de vermelho o rosto de políticos e outras figuras públicas presentes em um ritual, a liderança indígena redefiniu o espaço do diálogo, trocando o discurso formal pela força simbólica do urucum.
Mais do que uma marca visual, o vermelho vibrante, extraído do fruto amazônico, carrega um profundo significado entre os povos originários da região, como os Tapajós. Na cosmovisão dessas etnias, esta cor não representa apenas energia e acolhimento, mas é um sinal de força, proteção e uma ligação direta com os Encantados, entidades espirituais que habitam a natureza. A pintura, portanto, é um traço de pertencimento e sabedoria ancestral.
Esse gesto ritualístico é uma forma coletiva e sagrada de reafirmar a identidade. Quando um líder indígena aplica a tintura, ele compartilha não apenas a cor, mas a energia e o espírito da floresta. É um ato que transcende a individualidade, transmitindo memórias e construindo uma ponte palpável entre o corpo humano e a natureza. No contexto de eventos públicos ou tensões territoriais, como já se viu em protestos contra grandes projetos de infraestrutura (como a Ferrogrão), a aplicação do urucum pode adquirir ainda o tom de um sinal de resistência e advertência.
O pajé Tapajós, ao envolver figuras políticas neste rito, subverte a lógica do tempo. Ele lembra que a tradição não é um passado distante, mas uma presença ativa e atuante no presente. A ancestralidade é invocada para validar a existência e a voz dos povos originários, inserindo seus valores e sua espiritualidade no centro da esfera decisória. O urucum, outrora limitado à Aldeia, torna-se a tinta que escreve a mensagem da Amazônia no cenário nacional, exigindo respeito e reconhecimento da sua cosmovisão.





