Há séculos, a humanidade especula sobre o que acontece no momento do “adeus”. Filósofos, religiosos e poetas teceram narrativas exuberantes sobre o destino da consciência. A ciência, sempre com sua régua e bússola, observava de longe. Agora, os pesquisadores decidiram trocar a especulação pela planimetria, buscando medir o indizível.

Um novo estudo, em fase de revisão por pares, propõe uma abordagem inusitada para as Experiências de Quase Morte (EQMs): categorizá-las pela “geometria” dos relatos. Esqueça o anjo guardião ou a visão do paraíso; a pesquisa focou em 48 sobreviventes, transformando o que seriam seus momentos finais em diagramas. Se a morte é um buraco negro de mistério, a ciência tenta ver o que há por dentro, e a resposta, aparentemente, se parece com um desenho técnico.
A ideia central não é provar a existência de uma vida após a morte, mas sim decifrar o último suspiro neurológico. Um dos relatos, por exemplo, descreve estar “envolto em um túnel orgânico que era completamente preto, mas tinha qualidades iridescentes”. Soa menos como um evento espiritual e mais como uma alucinação sensorial vívida, talvez resultado da redução do fluxo sanguíneo para o cérebro, que pode induzir a visões de túnel e outras estruturas geométricas incomuns, como sugerem outras pesquisas na área.

É o cérebro, essa caixa-preta de complexidade, tentando se desligar de forma poética. Outras hipóteses, vale lembrar, sugerem que a consciência complexa pode persistir durante a parada cardíaca, liberando neurotransmissores que criam essas realidades alternativas como um mecanismo de defesa ou uma “memória” da própria morte. A ciência, com seu faro cético, recusa-se a aceitar que a alma pesa 21 gramas ou que o além é habitado apenas por parentes falecidos e luzes de hospital.
No fim, a jornada da EQM, vista por esta nova lente geométrica, é menos uma viagem transcendente e mais um processo interno fascinante. A fronteira final, aquela que intriga as mentes mais brilhantes, está sendo reduzida a figuras de linguagem: túneis, vórtex e formas geométricas que o cérebro fabrica no limiar da existência. O mistério persiste, claro, mas agora vem acompanhado de um mapa mental. Talvez, ao mapear o último vislumbre, a ciência esteja, de fato, mais perto de compreender o que significa, ou não, morrer.




