Fortim, o enclave de ventos constantes e águas mansas no litoral leste cearense, atravessa um momento de dissonância cognitiva. Conhecida pelo isolamento geográfico que garante sua exclusividade, a cidade agora figura em relatos que nada têm a ver com suas belezas naturais. O alvo da vez não é o patrimônio histórico ou os estabelecimentos comerciais, mas a mobilidade de quem a visita: o furto sistemático de conjuntos de rodas e pneus.
O caso mais recente, registrado neste domingo (21), sintetiza o modus operandi desses grupos. Enquanto um cidadão buscava o ócio em uma das barracas da região, seu veículo era “descalçado” à luz do dia. Ao retornar, encontrou apenas o chassi sobre cavaletes improvisados, uma imagem que se tornou o novo e indesejado cartão-postal da insegurança local.
Diferente do furto de oportunidade, a subtração de quatro rodas simultâneas exige logística, ferramentas específicas e velocidade. A recorrência desses eventos em pontos distintos do município sugere uma estrutura de receptação já estabelecida, onde o produto do crime é rapidamente reinserido no mercado clandestino de peças.
A repercussão digital, impulsionada por perfis como o TV Pai d’Égua, funciona como um termômetro da indignação coletiva. O que se lê nos comentários e relatos não é apenas o prejuízo financeiro, mas o rompimento de um pacto implícito de tranquilidade que cidades de pequeno porte costumam oferecer.
Para um destino que fundamenta sua economia na hospitalidade, a “sensação de insegurança” é um ativo corrosivo. O impacto imediato é a retração do fluxo turístico e a mudança de hábitos dos moradores, que passam a evitar determinadas áreas ou horários.
Até o momento, a resposta das autoridades é cobrada com urgência. A população exige que o patrulhamento deixe de ser meramente ostensivo e passe a ser estratégico, integrando inteligência para desarticular as rotas de fuga e os pontos de venda dessas mercadorias. Enquanto o policiamento não alcança a agilidade dos criminosos, Fortim assiste, entre o susto e a espera, à desvalorização de seu bem mais precioso: a paz de espírito de quem chega para descansar.





