Durante o fim de semana, a Casa Ilê Axé Iá Oxum, localizada no bairro Gameleira, Zona Sul de Aracaju (SE), foi alvo de invasão e vandalismo. Os autores do crime abriram objetos litúrgicos usados nos rituais e furtaram máquinas de costura, segundo relato dos membros da comunidade. O caso foi formalizado nesta segunda-feira (13) na Polícia Civil.
Os integrantes da casa religiosa declararam que o ataque possivelmente tem motivação de racismo religioso. Eles apontam que a destruição de artigos sagrados e a violação do espaço de culto não se enquadram em simples furto, mas numa ação que desrespeita seus símbolos e crenças.
Às autoridades, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do estado informou que, apenas em 2025, já foram registrados seis episódios de atos de racismo direcionados a templos religiosos. Em um panorama mais amplo, os últimos seis anos foram marcados por 17 ocorrências desse tipo.
Os dados oficiais também apontam um aumento no registro de investigações envolvendo crimes motivados por discriminação religiosa: em 2024, o Departamento de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAGV) instituiu mais de 2.300 inquéritos nessa categoria e contabilizou 705 prisões, sendo 640 em flagrante, relativas a crimes de gênero, raça, crença e idade.
No âmbito estadual, Sergipe tem histórico de confrontos entre órgãos públicos e comunidades de terreiro. Em 2016, por exemplo, a Polícia Militar expôs publicamente apreensões de instrumentos usados em ritual de candomblé, o que gerou críticas de promotores que alegaram violação à liberdade religiosa e retratação vexatória para povos de terreiro.
As religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, estão entre os principais alvos da intolerância religiosa no Brasil. Muitos casos não são registrados ou não recebem visibilidade, o que alimenta uma subnotificação do fenômeno.
Organizações sociais e lideranças de terreiros, por sua vez, têm se mobilizado juridicamente para garantir proteção legal e reconhecimento dos direitos desses espaços de culto. Em estudos acadêmicos, mencionam o usdestao de estratégias legais, desde ações civis até denúncias junto a órgãos federais, para enfrentar essas agressões.
Em Aracaju, inciativas públicas também tentam responder ao problema. A prefeitura lançou o projeto “Aracaju sem Racismo” em 2021 com o objetivo de combater o racismo institucional e promover igualdade.