A fronteira entre o dever profissional e a espetacularização da vida privada tornou-se o centro de um debate ético em Jacaraú, no Vale do Mamanguape, na Paraíba. O que deveria ser um protocolo de atendimento emergencial transformou-se em um caso de demissão sumária após duas funcionárias da prefeitura local posarem para uma fotografia, com sinais de positividade, diante do cenário de um acidente que resultou na morte do jovem atleta Joel da Silva, o “Joel Cobra”.
O episódio ocorreu na última terça-feira (16), no trecho da rodovia PB-071 que liga os estados da Paraíba e Rio Grande do Norte. Enquanto a área permanecia isolada para os procedimentos de perícia e socorro, o registro digital das servidoras ao lado da ambulância municipal começou a circular em redes sociais, gerando uma onda imediata de indignação pública.
Diferente da lentidão burocrática que muitas vezes marca processos administrativos, a Prefeitura de Jacaraú reagiu com rapidez ao clamor social. Em nota oficial divulgada na quarta-feira (17), a gestão municipal formalizou o desligamento das envolvidas, fundamentando a decisão em três pilares:
• Ética Profissional: O comportamento foi considerado incompatível com o decoro exigido para o exercício da função pública.
• Respeito à Vítima: A postura festiva das servidoras contrastou violentamente com o luto da família de Joel da Silva e a gravidade do sinistro.
• Humanização do Serviço: A prefeitura reafirmou que o atendimento público deve ser pautado pela empatia, algo que a imagem em questão claramente negligenciou.
O caso é um sintoma contemporâneo da necessidade de validação constante através de imagens, mesmo em contextos de dor alheia. A demissão não apenas encerra o vínculo empregatício das servidoras, mas serve como um marco pedagógico sobre os limites da exposição em ambiente de trabalho, especialmente em setores sensíveis como a saúde e a segurança pública.
Para a comunidade de Jacaraú, a decisão da prefeitura foi vista como uma tentativa de restaurar a dignidade institucional e respeitar a memória do atleta vitimado, reforçando que a eficiência do Estado não se mede apenas pela técnica, mas pela capacidade de demonstrar humanidade nos momentos mais críticos.





