SBNI reforça que diagnóstico do autismo depende de observação clínica

Nova diretriz aponta que o TEA pode ser identificado desde os 14 meses com apoio de tecnologias de rastreamento visual, sem uso de exames laboratoriais.

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A Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI) acaba de publicar uma atualização significativa em suas “Recomendações e Orientações para o Diagnóstico, Investigação e Abordagem Terapêutica do Transtorno do Espectro Autista (TEA)”, documento que reafirma que o autismo não se detecta por meio de exames laboratoriais, mas sim por meio de observação cuidadosa do comportamento e do desenvolvimento da criança em diferentes contextos. O novo conjunto de diretrizes também aponta que o diagnóstico pode ser considerado já a partir de cerca de 14 meses de idade, com apoio de novas tecnologias de rastreio, como dispositivos de rastreamento visual.

No texto, a SBNI explica que o TEA é uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada pela dificuldade de interação social, comunicação e presença de interesses restritos ou comportamentos repetitivos, cujas manifestações aparecem nos primeiros anos de vida. Como não há até o momento marcador biológico específico, seja no sangue ou em exames de imagem, capaz de estabelecer diagnóstico por si só, a avaliação requer consulta clínica, entrevista com cuidadores, análise de ambiente e contexto e observação direta da criança.

A diretriz também destaca que instrumentos de triagem, como a lista M-CHAT ou o Questionário de Comunicação Social (SCQ), podem auxiliar na identificação de risco, mas não substituem a avaliação especializada. Em consonância, recentes pesquisas mostram que tecnologias como rastreamento visual (eye-tracking) podem identificar padrões de atenção no bebê ou criança pequena, por exemplo, maior fixação em formas geométricas em vez de rostos ou movimento social e que tais padrões se associam a futuros diagnósticos de TEA.

Esse tipo de tecnologia, segundo estudo de 2024, testou o protocolo de rastreamento visual Gazefinder em 54 bebês com idade entre 9 e 14 meses, constatando que a fixação prolongada em estímulos não-sociais se correlacionou com marcadores comportamentais de autismo. Outro estudo com 146 crianças entre 14 e 48 meses encontrou seis índices de eye-tracking associados a diagnóstico de autismo.

Para a prática clínica e familiar, as diretrizes reforçam a importância de observação precoce nos ambientes em que a criança vive, em casa, no brincar, na interação social e na comunicação. Identificar sinais como pouca resposta ao nome, evitamento de olhar, atraso na comunicação ou fixação intensa em objetos, e considerá-los como alerta para investigação, torna-se central. Ainda assim, o documento alerta que diagnóstico precoce não significa precipitado: crianças muito pequenas ou em contextos de vulnerabilidade exigem acompanhamento contínuo e reavaliação, pois o risco de resultados inconclusivos ou troca diagnóstica existe.

Em resumo, a SBNI orienta que o diagnóstico do autismo no Brasil dependa da combinação entre observação clínica especializada e tecnologias emergentes de rastreio, sem confiar em exames de sangue ou testes rápidos e o faça o mais cedo possível, para que intervenções e suporte ocorram quando o cérebro ainda apresenta maior plasticidade.

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