Queda histórica na pobreza brasileira: o efeito duplo de programas sociais e mercado de trabalho

​Desempenho pós-pandemia leva extrema pobreza ao menor nível da série, mas desigualdade racial persiste

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O Brasil registrou um marco significativo na luta contra a privação econômica em 2024. Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que a proporção da população em extrema pobreza recuou para 3,5%, o menor patamar desde o início da série histórica em 2012. Essa redução, de 0,9 ponto percentual em relação a 2023 (quando era de 4,4%), tirou cerca de 1,9 milhão de pessoas dessa condição em apenas um ano.

 

A queda não se limitou à miséria: a pobreza também apresentou um declínio notável, passando de 27,3% para 23,1% da população entre 2023 e 2024, o que representa 8,6 milhões de pessoas a menos vivendo abaixo da linha. Com 48,9 milhões de pessoas nessa situação, o índice é o mais baixo em doze anos.

​Os indicadores sociais apontam para o terceiro ano consecutivo de redução nos níveis de pobreza, consolidando uma recuperação econômica pós-pandemia de Covid-19, período em que a pobreza atingiu seu pico em 2021 (36,8% da população).

Um elemento importante nesse avanço são os programas de transferência de renda. O IBGE destaca que, na ausência desses benefícios governamentais, a proporção de pessoas na extrema pobreza saltaria de 3,5% para 10,0%, e a taxa de pobreza subiria para 28,7% da população. A manutenção de programas como o Bolsa Família em um patamar superior ao pré-pandemia, juntamente com um mercado de trabalho mais dinâmico, especialmente o aumento na ocupação, configuram o motor principal dessa melhoria.

O Nordeste, por exemplo, viu a maior redução proporcional, com a taxa de pobreza caindo de 47,2% para 39,4% em um ano, evidenciando o impacto concentrado das políticas sociais em regiões mais vulneráveis.

 

Apesar do progresso geral, a análise dos dados por cor ou raça expõe a profunda e persistente desigualdade estrutural brasileira. A chance de uma pessoa ser pobre no Brasil segue diretamente ligada à sua identidade racial:

​Pessoas Brancas: 15,1% estavam na condição de pobreza, e 2,2% na extrema pobreza.

​Pessoas Pretas: 25,8% eram pobres e 3,9% estavam na extrema pobreza.

​Pessoas Pardas: 29,8% eram pobres e 4,5% estavam na extrema pobreza.

​O contraste é evidente: a proporção de pessoas pretas e pardas na pobreza é quase o dobro da verificada entre a população branca. Além disso, a renda domiciliar per capita da população branca se manteve 65,9% maior do que a da população preta e parda. Essa disparidade sublinha que, embora o país celebre a queda na pobreza geral, o desafio de eliminar a chaga da desigualdade racial exige políticas públicas mais direcionadas e eficazes para garantir uma distribuição de renda mais equitativa.

​O Índice de Gini, que mede a desigualdade, também caiu, atingindo 0,504 em 2024, o menor da série. No entanto, o fato de pessoas pretas e pardas representarem 71,3% do total de pobres, enquanto são 56,8% da população, demonstra que a redução da desigualdade ainda não se traduz em equidade racial completa.

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