A França viveu dias de pesadelo, daqueles que fazem o ministro da Cultura esfregar os olhos e se perguntar se o país não trocou de vocação e virou cenário de filme B de assalto. Não bastasse a audácia de invadir o sacrossanto Museu do Louvre em Paris, em plena luz do dia, numa operação cinematográfica de míseros sete minutos, e levar joias da coroa francesa avaliadas em centenas de milhões de reais, deixando inclusive uma tiara da Imperatriz Eugênia danificada na fuga, talvez por pressa ou excesso de peso do ouro e diamante.

Pois bem, o Louvre nem havia digerido o vexame e já era hora de olhar para o interior: Langres, no nordeste do país, a cerca de 300 quilômetros da capital, entrou para o mapa do crime patrimonial. No museu dedicado ao filósofo iluminista Denis Diderot, ironia fina, já que o iluminismo prega a razão e a vigilância, cerca de 2 mil moedas de ouro e prata desapareceram.
O roubo, avaliado em singelos 90 mil euros (aproximadamente R$ 562 mil), ocorreu na noite de domingo, poucas horas depois do grande espetáculo no Louvre. A descoberta veio na terça-feira, quando funcionários da Maison des Lumières se depararam com uma vitrine estilhaçada e acionaram as autoridades.

Se os ladrões do Louvre demonstraram ousadia, os de Langres mostraram “grande perícia”, segundo comunicado da administração local. Aparentemente, eles selecionaram as moedas com o rigor de um numismata especialista. É quase poético: o crime organizado está valorizando a história e o colecionismo.
O que se depreende de tudo isso? Que a França, nos últimos tempos, virou um verdadeiro paraíso de oportunidades para o ladrão de arte e antiguidades, com o perdão do eufemismo. Primeiro foram as pepitas de ouro do Museu de História Natural de Paris. Depois, porcelanas chinesas sumiram em Limoges. Agora, a coroa no Louvre e as moedas em Langres. A pergunta que fica não é se os museus franceses têm tesouros, mas sim: “Afinal, quem está no comando da segurança patrimonial deste país, e ele por acaso estava de férias?”.
Entre o roubo relâmpago e a fuga de scooter no Louvre e a “perícia” técnica na seleção das moedas em Langres, fica a impressão de que a República não está apenas perdendo peças históricas, mas também uma batalha silenciosa contra uma onda de criminosos que parecem ter lido o manual de assaltos “estilo Hollywood” e o manual “como roubar sem ser pego em museus com segurança obsoleta”. E a pobre França, mais uma vez, provando que a história se repete, primeiro como tragédia, depois como uma crônica de jornal dolorosamente previsível.





