Percílio e o “bonde aéreo” da Serra de Itabaiana (SE): amores e asas de rapina

Santuário sergipano, único na América do Sul, transforma aves de rapina feridas em embaixadoras da conservação

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Na Serra de Itabaiana, a aproximadamente 56 quilômetros de Aracaju, ergue-se o Parque dos Falcões, uma iniciativa que transcende a mera atração turística. Legalizado pelo Ibama e reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial de Sergipe, o espaço se consolidou como o único centro de criação, multiplicação e preservação de aves de rapina na América do Sul. Longe de ser um criadouro convencional, o local funciona como um santuário e centro de reabilitação para mais de 300 aves resgatadas de tráfico, maus-tratos e acidentes.

Foto divulgação
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O coração pulsante deste projeto é José Percílio Mendonça Costa. Sem formação acadêmica em Biologia ou Veterinária, Percílio se tornou uma referência internacional no manejo e treinamento dessas aves, um conhecimento que, segundo ele, foi adquirido na prática, através de uma convivência intensa iniciada na infância. Seu primeiro mestre foi Tito, um falcão que ele criou desde o ovo e que hoje, aos 25 anos, é um símbolo da amizade incomum entre homem e ave de rapina.

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No Parque, a relação com as aves é de profunda dedicação, fugindo à frieza de um cativeiro. Corujas, falcões, abutres e gaviões, muitos com sequelas permanentes de maus-tratos, como a coruja Olímpia, que teve os dedos mutilados, recebem nomes carinhosos como Jurubeba, Dedé e Pandora. A meta principal é a reabilitação, sendo que os animais aptos são reintroduzidos na natureza. Aqueles incapazes de retornar à vida selvagem permanecem no parque, dedicados à reprodução em cativeiro e à educação ambiental dos visitantes.

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O método de Percílio e de seus voluntários, como Antônio Novaes, de 18 anos, baseia-se na paciência e na conquista da confiança. “Tem que ter um bom punho” e, sobretudo, “entender o comportamento animal e ter amor à ave”, ensina o fundador. Essa abordagem permite que os visitantes não apenas observem, mas interajam com aves, podendo acariciar espécies como a coruja Jurubeba.

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Aberto à visitação mediante agendamento, o Parque recebe turistas e pesquisadores do Brasil e do mundo, incluindo equipes do Japão e convites de projetos na Amazônia e na Espanha. Apesar da popularidade, Percílio mantém-se focado no trabalho diário e na manutenção do santuário, que, além da conservação, oferece ao público demonstrações de voo livre e a oportunidade de testemunhar de perto o treinamento de defesa pessoal, uma técnica aprendida observando o falcão Dedé protegê-lo de um ataque de abelhas na mata.

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Financiado principalmente pela renda da visitação, o Parque dos Falcões opera com o apoio de um biólogo, um veterinário e voluntários, seguindo rigorosamente as exigências do Ibama. É um refúgio que prova que a conservação pode nascer da paixão e da dedicação inata, transformando um ofício solitário na serra em um farol de esperança e respeito pela fauna brasileira.

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