Pesquisadores brasileiros da Universidade de Brasília (UnB), liderados pela professora Luana Cristina Camargo, alcançaram um marco significativo no estudo do Alzheimer. O foco da pesquisa recai sobre a Octovespina, um peptídeo natural extraído do veneno do marimbondo. Esta molécula demonstrou a capacidade de inibir o acúmulo da proteína beta-amiloide, considerada central na patogênese e progressão da doença neurodegenerativa.
A Octovespina atua na redução de proteínas tóxicas que induzem a danos neuronais. Por esta razão, seu espectro de aplicação pode ir além do Alzheimer, abrangendo outras formas de demência que compartilham mecanismos de degeneração cerebral semelhantes, potencializando o impacto terapêutico do achado.
A forma de aplicação do composto é um diferencial estratégico. O grupo de pesquisa planeja o desenvolvimento de um spray nasal, uma rota de administração estudada globalmente por sua eficiência. O uso intranasal oferece um caminho direto ao cérebro, permitindo que a Octovespina atravesse a barreira hematoencefálica de maneira mais eficiente.
Essa barreira biológica protege o cérebro, mas, ao mesmo tempo, impede que a maioria dos medicamentos atinja o alvo terapêutico. A aplicação intranasal, portanto, representa uma alternativa prática, menos invasiva e com potencial de reduzir os efeitos colaterais sistêmicos, tornando o tratamento mais acessível e de melhor qualidade para os pacientes.
O desenvolvimento da Octovespina se insere em um contexto de urgência sanitária global. Atualmente, mais de 55 milhões de pessoas em todo o mundo convivem com alguma forma de demência, e o Alzheimer é responsável pela vasta maioria dos casos (cerca de 60% a 70%).
A taxa de novos diagnósticos é alta, com cerca de 10 milhões de casos anualmente. As projeções indicam que essa crise se intensificará: espera-se que o número total de pacientes atinja mais de 150 milhões até 2050. No Brasil, mais de 1,2 milhão de pessoas são afetadas.
O sucesso da Octovespina em testes clínicos transformaria o spray nasal em uma solução capaz de retardar o avanço da doença, oferecendo uma nova esperança para milhões de famílias, ao mesmo tempo em que destaca a contribuição da biodiversidade brasileira para a ciência mundial.





