Vale Tudo terminou e, surpresa das surpresas, Odete Roitman não morreu. Não, você não leu errado. A vilã mais emblemática da dramaturgia brasileira resolveu dar um tempo nas facadas, tiros e conspirações fatais para quem a enfrentasse. A safra 2025 da trama que arrebatou corações e dentes agora dá um banho de água fria na tradição da novela que ensinou o Brasil a discutir “vale tudo” e até onde vai a ética do próximo.
A morte de Odete Roitman, na versão original, era uma espécie de ritual de passagem para o espectador. O “quem matou?” virou febre, o suspense dominou rodas de conversa, e o país esqueceu do horário do jantae por semanas.
Agora, com Odete sobrevivente, desafiando a sina mortal das vilãs, temos um frescor sarcástico: a onipresente vilã, aquela que você jurava ter morrido três episódios antes, está viva e deu um jeito de rir na cara do destino.
Essa reviravolta não é apenas um capricho da roteirista. É um espelho irônico para nosso cotidiano, onde figuras que deveriam cair, tropeçam, mas seguem de pé, impunes e risonhas. Odete remexeu no vespeiro da moralidade da trama, e do país, para lembraremo-nos que a vida real, ao contrário da novela, não se pauta necessariamente pelo plot ideal. Às vezes, o “vale tudo” vale mais para a sobrevivência do que para a justiça.
A decisão disruptiva lança um desafio: se a rainha da maldade não morre, o que resta para o enredo? A resposta, claro, é surreal. Mas vale lembrar que a ausência de desfecho clássico abre espaço para uma nova dramaturgia do cinismo, onde heróis e vilões coexistem num limbo moral. Nada de lápides, tramas encerradas ou finais felizes. Apenas a continuidade inexorável do jogo sujo.
E sejamos francos: não sentir saudade da Odete anunciando o fim da festa da ética já é um sinal de que a senhora vilã conseguiu algo que poucos personagens alcançam, não ser esquecida, não ser enterrada, mas se reinventar.
Se Odete Roitman fosse uma metáfora, não seria a punida da história. Seria a grande sobrevivente das nossas contradições, a prova definitiva de que neste país, como na novela, vale mesmo tudo, inclusive escapar da morte.
Quer rir ou chorar? Esperemos o próximo capítulo.