O Palácio do Planalto não escolheu o caminho do confronto. Ao oficializar o nome de Jorge Messias para a cadeira deixada precocemente por Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um movimento calculado milimetricamente sobre o tabuleiro do Senado. Longe da figura polêmica que protagonizou as manchetes em 2016, o Messias de 2025 chega à antessala da Corte despido de radicalismos e vestido com o figurino que o Centrão aprecia: o de um jurista de portas abertas e trânsito livre entre conservadores.
A indicação, confirmada nesta quinta-feira (20), inaugura a temporada de “beija-mão” nos gabinetes de Brasília. A matemática para vestir a toga exige a aprovação de 41 dos 81 senadores, mas a verdadeira batalha não é apenas numérica; é simbólica. Messias, atual Advogado-Geral da União, sabe que seu passaporte para o STF depende menos da fidelidade da base governista e mais da boa vontade de Davi Alcolumbre (União-AP), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), e das lideranças evangélicas que dominam pautas cruciais no Congresso.
Diferente de indicações anteriores marcadas por embates ideológicos, a estratégia de Messias é a do “silêncio operante”. Nos últimos dois anos à frente da AGU, ele cultivou uma reputação de bombeiro institucional, evitando litígios desnecessários com o Legislativo e defendendo teses que agradam inclusive a opositores do governo. É esse capital político, a imagem de um “evangélico de esquerda”, capaz de dialogar com a bancada da Bíblia sem alienar o progressismo, que ele colocará à prova na sabatina.
O cenário, contudo, não é de céu de brigadeiro. Nos bastidores, a insatisfação de Alcolumbre é palpável; o senador articulava nos corredores o nome de Rodrigo Pacheco, num desenho de poder que foi frustrado pela escolha de Lula. Para contornar essa “frustração”, Messias já iniciou um périplo de conversas discretas, sinalizando que sua atuação na Corte “não será a de um ativista judicial, mas a de um garantista”, música para os ouvidos de parlamentares que temem o superpoder do Judiciário.
A vaga aberta pela aposentadoria antecipada de Barroso exige pressa, mas o rito do Senado tem tempo próprio. Enquanto a oposição promete desenterrar o passado para desgastar o indicado na TV Senado, o governo aposta que o perfil técnico e a postura conciliadora de Messias durante sua gestão na AGU falarão mais alto. O jogo mudou: não se trata mais de provar lealdade ao Executivo, mas de demonstrar utilidade e previsibilidade ao Legislativo. Se conseguir convencer o Centrão de que não será um obstáculo, Messias trocará a beca de advogado pela toga de ministro, provando que na política, tal qual no direito, a forma muitas vezes se sobrepõe ao conteúdo.





