Neste sábado (20), a tranquilidade arborizada do Horto Florestal, em Salvador, foi substituída pelo estridor metálico de uma intensa troca de tiros. O episódio, registrado em vídeos que rapidamente inundaram as redes sociais, não apenas assustou moradores, mas escancarou uma realidade que muitos preferiam acreditar estar restrita às periferias geográficas da capital: a audácia de grupos armados não respeita mais fronteiras socioeconômicas.
O confronto ocorreu sob o sol de um fim de semana comum, em uma área conhecida por seus condomínios de luxo e vigilância privada ostensiva. Contudo, o que se viu foi o colapso momentâneo da ordem urbana. Enquanto o som seco das detonações ecoava entre os edifícios, a sensação de impotência se alastrava, transformando varandas gourmet em abrigos improvisados contra balas perdidas.
Até o momento, o cenário é de um preocupante vazio informativo. Procuradas para esclarecer a natureza da ocorrência, se fruto de uma operação planejada, um conflito entre facções ou uma tentativa de assalto mal-sucedida, as polícias Militar e Civil da Bahia mantêm um silêncio institucional absoluto.
Essa ausência de manifestação oficial por parte da Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) alimenta o clima de insegurança e dá margem a especulações. Em uma era de circulação instantânea de dados, o “em apuração” contínuo do Estado soa menos como cautela técnica e mais como uma falha na comunicação estratégica.
O episódio no Horto Florestal é o sintoma de uma ferida aberta na Bahia. A violência, que historicamente atinge as comunidades mais vulneráveis, agora transborda de forma explícita para os centros nervosos da elite baiana. O caso exige mais do que notas de rodapé; demanda uma explicação clara sobre como armas de alto calibre transitam livremente pelas artérias da cidade, independentemente do CEP.
Enquanto as autoridades não se posicionam, resta aos residentes o medo residual e a incerteza de que a próxima rajada de vento no Horto venha acompanhada, novamente, pelo som de projéteis.





