O Ritual da mesma emoção: Roberto Carlos tira a poeria do azul e desce a Serra (de novo). João Gomes, junto.

​Piseiro, novela e jovem guarda: a receita perfeita da Globo para a paralisia temporal do fim de ano

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É oficial. Como o Panetone na prateleira do supermercado e o aumento do IPTU, o especial de Roberto Carlos está marcado. A Globo, em um ato que anualmente reforça seu compromisso com a mais previsível das tradições natalinas, confirmou a data da gravação do eterno “Rei” para 12 de dezembro, com exibição sacramentada no dia 23. E para onde a caravana do glamour azul-calcinha se dirige desta vez? Novamente, para Gramado, no Rio Grande do Sul, provando que, se não está quebrado, não precisa consertar. Ou, mais precisamente, provando que o Sul tem neve cenográfica suficiente para manter a ilusão.

A grande jogada mercadológica deste ano, no entanto, reside na ousadia do elenco de apoio. Esqueça a mesmice: o palco de Roberto Carlos agora é um caldeirão onde o piseiro encontra o melodrama das nove.

​De um lado, a nova geração é representada pelo fenômeno João Gomes, escalado para provar que a emoção nordestina resiste até mesmo a um arranjo de cordas de “Detalhes”. O encontro promete ser um divisor de águas: será que o Rei vai quebrar o protocolo e liberar um “Meu Piseiro por Você”?

Do outro, o evento serve como plataforma de merchandising para a dramaturgia global. A atriz Sophie Charlotte, protagonista da nova novela das nove Três Graças, trama que já nasceu com ares de Aguinaldo Silva revisitando seus próprios grand guignols, dará o ar da graça para interpretar uma canção. A performance não é apenas um dueto, é um cross-media obrigatório: Sophie está lá para cantar “Proposta”, tema do romance de sua personagem Gerluce. É a prova de que o especial não é apenas musical, mas uma impecável engrenagem de marketing corporativo.

O time de reforços ainda conta com o pilar da MPB, Fafá de Belém, a voz que nunca perde o tom dramático e a presença de palco imponente, garantindo a cota de diva. Para o tempero irreverente, o roqueiro Supla surge como o contraponto blondie punk ao monocromático Rei.

E para coroar a lista, Jorge Benjor. O anúncio menciona que Benjor, com quem RC “já fez um dueto recentemente”, estará presente. No universo de Roberto Carlos, onde o tempo é uma construção subjetiva regida por marinheiros e amantes à moda antiga, “recentemente” pode muito bem significar algo gravado em 2006 (como é o caso de “Que Maravilha”, incluída em seu álbum de duetos). É a eternização da parceria, onde décadas são apenas um detalhe melódico.

A gravação na Serra Gaúcha, com sua pompa natalina, sinaliza que, independentemente da idade ou das crises de audiência, o Especial Roberto Carlos é menos um show e mais um rito de passagem televisivo. É o atestado anual de que, por mais que o Brasil se transforme, o Rei ainda canta em branco e com o casting certo para vender de novela a piseiro. E a gente, claro, assiste, porque a única coisa mais certa que a exibição do especial é a certeza de que a TV Globo não vai arriscar o status quo em pleno fim de ano.

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