O fardo do chumbo: o custo invisível da violência armada no SUS

​Enquanto a segurança pública patina em índices de letalidade, o sistema de saúde brasileiro absorve uma fatura milionária que sacrifica o tratamento de doenças crônicas e a assistência pré-natal.

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A violência armada no Brasil não encerra seu ciclo de danos no momento do disparo ou na perícia policial. Ela transborda para os corredores dos hospitais públicos, onde o custo da sobrevivência impõe um fardo matemático severo ao Estado. De acordo com um levantamento do Instituto Sou da Paz, amparado em dados do Ministério da Saúde, a última década consumiu R$ 556 milhões do Sistema Único de Saúde (SUS) apenas em internações decorrentes de ferimentos por projéteis.

O cenário de 2024 revela uma desproporção alarmante entre a manutenção da vida e a prevenção básica. No último ano, o tratamento de 15,8 mil pacientes baleados drenou R$ 42,3 milhões dos cofres públicos. O dado mais contundente, contudo, reside na média por leito: cada vítima de arma de fogo custa, em média, R$ 2.680.

Este valor representa um salto de 159% acima do investimento federal per capita anual destinado à saúde de um cidadão comum. Na prática, o esforço financeiro para remediar a violência supera drasticamente o planejamento para manter a população saudável.

A análise financeira permite uma visualização clara do “custo de oportunidade”. O montante direcionado aos traumas por arma de fogo não é apenas uma cifra isolada; ele representa serviços essenciais que deixam de ser entregues à sociedade. Sob a ótica da saúde pública, os recursos gastos com o crime e seus desdobramentos poderiam ter financiado:

​- 74 mil sessões de quimioterapia para o combate ao câncer de mama;
​- 1,7 milhão de ultrassonografias obstétricas, fortalecendo a rede de pré-natal no país.

Diferente de doenças epidemiológicas, o trauma por arma de fogo é uma “epidemia evitável”. O gasto hospitalar é apenas a ponta do iceberg de um impacto socioeconômico mais profundo, que inclui anos de vida perdidos, produtividade interrompida e custos previdenciários com reabilitação.

Enquanto o país discute políticas de controle de armas sob o viés ideológico, os prontuários médicos entregam uma realidade pragmática: o projétil que fere na rua é o mesmo que desabastece o tratamento oncológico e a assistência materno-infantil na ponta final do sistema.

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