O Alcoolismo e a jornada da autossuperação: enfrentando a fera interior

Como o vício se transforma e a luta pela recuperação exige uma abordagem consciente e persistente

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Imagem criada com IA

Se o alcoolismo fosse uma criatura, ele começaria como um coelho manso, quase inofensivo. Ao se oferecer um copo, ele pareceria algo simples e inofensivo, como uma brincadeira leve, algo até encantador. Mas, à medida que o tempo passa e o hábito se enraíza, essa criatura vai crescendo, tornando-se mais difícil de controlar. De repente, o que antes era um pequeno coelho se transforma em um cavalo desgovernado, galopando sem parar, sem rumo. E, com o tempo, esse cavalo se torna uma fera selvagem, com garras afiadas e instintos destrutivos, capaz de devastar sua paz interior, consumir suas energias e arruinar relacionamentos e oportunidades.

Essa transformação não é apenas uma metáfora. O alcoolismo é, de fato, uma doença crônica e progressiva, e não um defeito moral. Pesquisas do National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA) demonstram que o cérebro do dependente de álcool sofre mudanças nas áreas responsáveis pela recompensa e pelo controle de impulsos. Essas alterações explicam por que é tão difícil controlar o vício: o cérebro literalmente se adapta ao consumo, e cada vez mais, o comportamento impulsivo é reforçado, tornando o vício mais desafiador de ser superado.

Como disse Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto: “Quando não podemos mais mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos”. No caso do alcoolismo, isso significa identificar que, embora não possamos controlar os efeitos que a substância tem sobre nós, podemos controlar como reagimos à tentação. Superar a dependência não é “exterminar” a fera de garras afiadas, mas aprender a não alimentá-la. Cada escolha consciente de se afastar da bebida é um passo na direção da autossuperação, onde a liberdade de viver sem o vício se torna o objetivo.

Sigmund Freud, ao analisar o comportamento humano, destacou que os impulsos, para perderem seu poder, precisam ser trazidos à consciência. Essa compreensão da dinâmica interna é vital no processo de recuperação do alcoolismo. Entender o que aciona a compulsão por beber, seja uma emoção reprimida, um padrão de comportamento ou um gatilho ambiental, é um passo essencial para enfraquecer o vício. Quando trazemos essas questões à superfície, a “fera” perde parte de sua força.

E, como afirmou Clarice Lispector, “A liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome”. Recuperar-se do alcoolismo é mais do que se livrar de um comportamento destrutivo. É sobre descobrir e alcançar uma liberdade maior, aquela que vem de compreender nossos desejos mais profundos e de encontrar um propósito mais forte do que a busca por alívio momentâneo através da bebida.

Essa jornada exige paciência, autocompreensão e a capacidade de lidar com os gatilhos emocionais que alimentam o vício. A verdadeira recuperação não acontece do dia para a noite, mas sim ao fazer escolhas diárias conscientes, resistindo à tentação, e reconstruindo uma vida baseada em autenticidade e equilíbrio.

A metáfora da serpente ensina que, para superar o alcoolismo, não é necessário erradicar a criatura internamente, mas sim aprender a não alimentar seus impulsos. A verdadeira batalha está em entender a origem do vício e, com a força da autoconsciência, recuperar o controle de nossas ações e da nossa vida.

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