Em decisão estratégica, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), optou por não incluir o PL da Dosimetria na lista de prioridades desta semana, impedindo o avanço da matéria. A medida ocorre num momento em que o Senado sinaliza forte resistência ao texto, e o relator, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), ainda não apresentou o parecer final.
Líderes senadores, incluindo Davi Alcolumbre (União-AP), deixaram claro que haverá dificuldade para aprovar mudanças que reduzam penas para os condenados pelo 8 de janeiro, especialmente se isso significar diminuição significativa à pena de Jair Bolsonaro. “Estou esperando o Paulinho”, afirmou Alcolumbre ao comentar o projeto, reforçando que só analisará a proposta após conhecer o relatório.
No planejamento inicial, esperava-se que o PL da Dosimetria unificasse crimes, como golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático e reduzisse penas por danos ao patrimônio público, o que poderia acarretar corte de 7 a 11 anos na condenação de Bolsonaro. Contudo, com o crescente impasse entre as casas legislativas, a proposta perdeu força.
Fontes parlamentares relatam que o projeto já acumula ao menos quatro adiamentos na Câmara. Alguns líderes do Centrão afirmam que nove das 14 bancadas consultadas até agora, totalizando 206 deputados, indicaram apoio parcial, insuficiente para garantir quorum e consenso.
Com o desgaste recente provocado pela rejeição da PEC da Blindagem no Senado, alvo de forte reação pública, Motta parece manter um perfil mais cauteloso para a Câmara, priorizando pautas menos conflituosas, como temas de educação. Essa escolha sinaliza uma tentativa de esvaziar disputas políticas intensas antes de enfrentar custos maiores no Legislativo.
Enquanto isso, Paulinho da Força continua negociando ajustes para tentar viabilizar a matéria. Ele já avisou que o relatório buscará evitar uma anistia ampla, limitando-se à dosimetria das penas. O projeto, por ora, caminha entre a ambição de concessão e o receio de ser derrotado em votações decisivas.
A política do “vai-e-vem” entre Câmara e Senado deixa o futuro da proposta incerto. Motta parece apostar que manter o PL da Dosimetria longe da pauta evita embates maiores, ao menos por enquanto.